Tuesday, January 21, 2014

Vinho tinto Poliphonia, uma obra-prima

Natal inesperado em Angola

Por razões profissionais, tive necessidade imperiosa de me deslocar a Angola, num período nada adequado para o efeito: o Natal.

Baía de Luanda
A minha primeira reação foi negativa, não só pelo afastamento forçado de parte da família, como também pelos inúmeros planos que tinha para passear com amigos e que se esfumaram à medida que ia tendo indicações de que me teria que ausentar de Portugal.

Dou muita importância aos almoços e jantares que regularmente faço com amigos, quase sempre com novidades turísticas, gastronómicas ou vinícolas para experienciarmos em conjunto e a sensação foi de grande perda.

Mas como o que tem que ser, tem muita força, lá viajei até Luanda, de onde estou a escrever este post.

Luanda é uma agradável surpresa

Luanda é uma cidade pujante, em pleno desenvolvimento, povoada por gruas em tão elevado número que será tarefa, quase impossível, contar.

É claro que existem os graves problemas com o trânsito, cujos males são atenuados pela iniciativa dos locais que aproveitam os carros parados para tentarem vender todo o tipo de coisas.

Tudo não, porque não vi ninguém a vender vinho. E se tal acontecesse, o seu consumo não seria decerto recomendável.

Não falta vinho português em Luanda

Como já tinha sido aqui referido pelo JB, existe muito e bom vinho em Luanda.

Nas minhas primeiras incursões pelo Jumbo, Jofrago, Mega, Shoprite, Martal e Maxi, tive oportunidade de verificar que as principais referências portuguesas estão presentes, assim como alguns vinhos da África do Sul, Argentina e Chile.

O problema poderá ser o preço, porque os valores praticados em Angola tornam quase impossível adquirir um vinho a menos do dobro do seu preço em Portugal. 

E conhecidos também não faltam

Angola tornou-se o destino de muitos milhares de portugueses, pelo que não será difícil encontrar-se pessoas amigas que aqui já estão, porque a necessidade de lutar por um futuro melhor, ou os desafios profissionais, trouxeram até estas paragens.

Não esperava, no entanto, tão bom acolhimento.

Vinho Tinto Poliphonia
Os principais lugares turísticos, supermercados e restaurantes foram rapidamente descobertos graças à disponibilidade de amigos, que aqui parecem exceder aquilo a que estamos acostumados no nosso país.

Foi deles que recebi as dicas sobre onde poderia adquirir bom vinho e os produtos necessários para a noite de Natal.

Vinho tinto Poliphonia, para a ceia de Natal

Garantida a normalidade na ementa de Natal, à qual não faltou o tradicional bacalhau, bem regado de azeite português, pois claro, e dos tradicionais doces e bolos, passámos à escolha dos vinhos, que recaiu no tinto Poliphonia Reserva 2010, da Herdade dos Perdigões.

Este vinho, segundo a informação disponibilizada sobre o Poliphonia, é feito a “partir das castas Alicante Bouschet e Syrah e tem maturação em carvalho francês (18 meses em barricas novas de carvalho francês seguido de um ano em garrafa)”.

No entanto, para além de sabermos que se tratava de um excelente vinho, por a versão de 2008 ter sido considerado o melhor vinho tinto do Concurso Mundial de Bruxelas, o que nos levou à sua escolha, na ausência de critérios mais técnicos, foi o saber que o Poliphonia homenageia um anterior proprietário do Monte dos Perdigões, o compositor Luís de Freitas Branco.

Luís de Freitas Branco
Tal como as composições do homenageado, o vinho revelou-se uma obra-prima e nenhum dos presentes “desafinou” na apreciação feita ao Poliphonia, tendo-o considerado um excelente vinho tinto.

Aos meus amigos e leitores do blogue, recomendo vivamente que, se ainda não o fizeram, experimentem o Poliphonia, na certeza de que não se irão arrepender.

À vossa saúde.

VL

Janeiro | 2014

Cuidados a ter com os vinhos da sua garrafeira

Nem todos os vinhos devem ser guardados na garrafeira

O primeiro cuidado que se deve ter, quando se está a comprar vinho para colocar na garrafeira, é verificar como ele deve ser consumido, uma vez que existem vinhos que se encontram prontos a ser consumidos e nada ganham com o estágio em garrafa.

Em termos gerais, os melhores vinhos para guardar são o Cabernet Sauvignon, o Sirah e o Chardonnay, enquanto os vinhos verdes são normalmente desadequados, mas a chave aqui é informar-se sobre cada um em particular.

Dentro dos adequados, que vinhos escolher?

Na constituição da sua garrafeira, é óbvio que o seu gosto e hábitos de consumo devem prevalecer.

Assim, a escolha deverá ser baseada nos vinhos que mais gosta e a quantidade de garrafas a armazenar deverá estar de acordo com a sua previsão de consumo.

Evite variações de temperatura, o calor e a luz solar

A garrafeira deve ser protegida da luz, assim como do calor e das variações de temperatura, devendo esta situar-se, idealmente, entre os 7ºC e os 13ºC.

Se existirem demasiadas variações de temperatura, o vinho pode sair pela rolha, o que indica que esta aqueceu ou que secou em demasia.

A humidade deve ser controlada

A humidade ideal do ar deve situar-se entre os 60% e os 70%, o que poderá ser monitorizado com o apoio de um higrómetro.

Caso a humidade seja muito elevada, poderá usar um aparelho desumidificador ou colocar blocos de cal, junto à garrafeira, uma vez que estes têm a capacidade de absorver a humidade.

Se o problema for a falta de humidade, pode sempre humedecer o chão com a regularidade que considerar adequada.

Cuidado com as melhores garrafas de vinho

Como estratégia, deverá armazenar as suas mais valiosas garrafas de vinho nas zonas mais frescas, que se situam, regra geral, junto ao solo.

A circulação de ar na garrafeira é benéfica

Se o espaço que destinou à garrafeira está situado em local húmido, deve garantir que existe uma boa circulação de ar, para que o cheiro a mofo possa ser minimizado ou mesmo eliminado.

Deve evitar vibrações junto à garrafeira

As vibrações aceleram o processo de envelhecimento, porque aceleram as reacções químicas.

Assim, deve evitar colocar a garrafeira junto a aparelhos eléctricos potenciadores de vibração, como as máquinas de lavar e secar roupa, os aparelhos de ar condicionado ou os geradores.

Resista à tentação de mexer no vinho depois de armazenado

Mesmo que o manuseamento das garrafas que decidiu armazenar lhe possa ser agradável, assim que colocado na garrafeira, o vinho deve ser movido o menos possível.

Para que tal seja possível, terá que fazer um esforço prévio de planificação e organização das garrafas na sua garrafeira.

Consoante o tipo de vinho, guarde as garrafas deitadas, ou de pé

De uma maneira geral, deve-se deitar as garrafas, para que o vinho fique em contacto com a rolha e evite que ela seque.

No entanto, as garrafas de vinho do Porto Tawny, Madeira e de outros vinhos generosos, podem ser guardadas de pé, uma vez que existe a possibilidade de danificarem a rolha, caso estejam em contacto com ela.

Não abra as garrafas cedo de mais, ou demasiado tarde

Poderá não ser uma tarefa fácil, determinar quando o vinho está no ponto ideal para ser consumido.

Mais uma vez deverá estar informado sobre as características do vinho e deve investir na planificação e organização da sua garrafeira, de forma a simplificar a tarefa de identificar o momento ideal para os vinhos serem consumidos.

O maior erro que pode cometer

Um amigo meu costuma dizer que o seu maior problema é poder morrer sem ter bebido todo o vinho que guarda na garrafeira.

Para evitar sentimentos idênticos, aconselho-o a partilhar o seu melhor vinho com amigos e família, o que além de muito compensador, garante que dificilmente morrerá com muitas garrafas de vinho por abrir.

Na minha opinião, caso isso acontecesse, esse seria o maior erro cometido na criação e manutenção da sua garrafeira.

À sua saúde!

VL

Janeiro | 2014

Monday, December 30, 2013

Rosé da Quinta da Ribeirinha, na Barra do Dande

Passeio gastronómico em Angola

Barra do Dande - Angola
Existem muitos e bons locais para se poder comer um bom peixe ou marisco, tanto em Luanda, como nos seus arredores.

No entanto, se a opção for dar um passeio e sair, mantendo-nos junto à costa para apreciar a paisagem marítima, ou para dar um mergulho, podemos optar por rumar a norte, até à Barra do Dande ou mesmo Ambriz, ou seguir para sul, até Sangano ou Cabo Ledo, localidades alcançáveis em tempo útil.

Num dia em que me apeteceu andar uns quilómetros e conhecer melhor os arredores de  Luanda, segui o conselho de um amigo e desloquei-me até à Barra do Dande, com o objectivo de comer um qualquer grelhado de peixe ou mesmo lagosta, em ambiente descontraído e popular.

Nome familiar, vinho familiar

Empregada do Restaurante Maria Lima
Na Barra do Dande existem muitos restaurantes, todos de aspecto mais ou menos popular, mas limpo, tanto quanto um espaço ao ar livre o pode ser.

Optei por um dos últimos, precisamente aquele que me permitia ver a foz do rio e a azáfama dos pescadores que entravam e saíam da barra, assim como as brincadeiras dos garotos nas águas do Dande.

A primeira coincidência foi perceber, através das t-shirts dos empregados, que o restaurante se designava por Maria Lima, o nome de um familiar próximo.

Como a minha opção acabou por recair num fresquíssimo linguado, que parecia do tamanho adequado ao meu apetite, solicitei à empregada que me indicasse os vinhos brancos ou rosés que tinha disponíveis, numa carta que adivinhei muito curta.

A segunda surpresa foi a sugestão da empregada, que recaiu num rosé. Não por ser uma proposta desconhecida ou desadequada, mas por ser produzido pela Quinta da Ribeirinha, cuja adega se situa a curta distância da minha residência em Portugal.

Rosé da Quinta da Ribeirinha

Rosé da Quinta da Ribeirinha
O rosé da Quinta da Ribeirinha é um D.O.C do Tejo, produzido a partir da casta Tinta Roriz e que estagiou dois meses em cascos de carvalho americano.

Segundo as suas notas de prova, “é intenso no aroma, é um vinho frutado, com notas a frutos vermelhos e pêssego, de final macio e persistente”.

A geleira, do restaurante Maria Lima, permitiu que o vinho se apresentasse na temperatura certa, uma vez que se deve consumir perto dos 12ºC e a combinação com peixe grelhado angolano revelou-se perfeita.

Não será pois de estranhar que após almoço tão agradável, num local muito particular e no meio de tantas coincidências, tenha ficado a certeza de que o rosé da Quinta da Ribeirinha passaria a integrar a minha lista de opções e de recomendações.

Em dia quente, na frente de um bom peixe grelhado, experimente o rosé da Quinta da Ribeirinha e diga-me se concorda, ou não, com a minha opinião.

À sua saúde!

VL

Dezembro | 2013

Monday, December 9, 2013

Vinhos do Dão, mais uma excelência da Beira Alta

Cabriz Tinto, Colheita Selecionada 2010

Cabriz Tinto, Colheita Selecionada 2010
Cabriz Tinto, Colheita Selecionada 2010
Mais uma visita ao interior de Angola e apresentaram-nos um excelente vinho português, da Denominação de Origem Controlada do Dão, do produtor Quinta de Cabriz, da Global Wines / Dão Sul: o Cabriz Tinto, Colheita Selecionada 2010.

É um vinho produzido com castas Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro, da responsabilidade do enólogo Osvaldo Amado, por sinal, de nacionalidade angolana. Com seis meses de maturação em barricas de carvalho francês, um teor alcoólico de 13%, refere-se nalgumas crónicas dos apreciadores que apresenta um aroma com impacto, boa fruta, juventude e suavidade, terminando “com alguma persistência.”

Sendo sugerido como bom acompanhante de “uma grande variedade de pratos de carne, especialmente grelhados, “carnes vermelhas, caça e queijos” e a ser consumido a uma temperatura entre os 16 e os 18º C, nós tínhamo-lo a acompanhar umas costeletas de cebolada e com uma temperatura que nos soube bastante bem. Se não na recomendada, pelo menos, a não fugir muito dela.

Um ribatejano, um transmontano e um alentejano, bebem um Dão e é proibido falar dos “seus” vinhos. Só se fala de Dão e vale pesquisar.

Dão Sul na vanguarda do setor vitivinícola português

A Global Wine / Dão Sul, iniciou-se com a missão de divulgar os vinhos do Dão, tanto a nível nacional, como internacional. 

Rapidamente alargada para outras regiões vitivinícolas, apresenta-se hoje com várias quintas em produção, entre a Região dos Vinhos Verdes (com a Quinta de Lourosa), o Dão (com a Casa de Santar, Paço dos Cunhas de Santar e Grilos), o Douro (com a Quinta das Tecedeiras e Sá de Baixo), a Bairrada (com a Quinta do Encontro), a Estremadura (com a Martim Joannes Gradil) e o Alentejo (com a Herdade Monte da Cal).

Dessas quintas, para além dos bons queijos, azeites e vinagres de indiscutível qualidade, saem excelentes vinhos, muitos deles premiados e publicamente reconhecidos, tanto a nível nacional como internacional. Muitas têm sido as distinções atribuídas aos vinhos da Global Wines / Dão Sul. Enunciá-las todas, daria um artigo único. Assim, destacamos apenas algumas delas.

“Escolha da Imprensa 2013”, atribuída na feira de novembro, “Encontro com o Vinho e Sabores”, aos Espumantes Condessa de Santar 2010 e Encontro Special Cuvée 2010. A atribuição feita pelo Guia de Compra, de 90 pontos ao Casa de Santar Tinto 2010, edição da prestigiada revista “Wine Spectator”. Medalha Grande Ouro atribuída ao Cabriz Encruzado, Branco 2012. Distinção “Grandes Tintos do Dão”, da revista “Paixão pelo Vinho”, para os Cabriz Four C, DOC Tinto 2009 e Paços dos Cunhas de Santar, Vinha do Contador, DOC tinto 2008. Medalhas de ouro no Concurso Mundial de Bruxelas de 2012 (Cabriz Colheita Seleccionada Branco 2011) e no Concurso Bacchus 2012 (Cabriz Colheita Seleccionada, tinto 2009 e Grilos Tinto 2009). Casa de Santar Reserva Tinto 2007, o Melhor Vinho em Business Class (TAP), 2011.

Do outro lado do Atlântico (no Brasil) a Dão Sul também está presente, num projeto iniciado em 2002, o Vinibrasil, no Vale de S. Francisco, região do sertão nordestino, uma zona de produção de vinho onde predominam as castas Cabernet Sauvignon, Syrah, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinto Cão, Vinhão, Tanat e Malbec, produzindo-se vinhos de excelente qualidade, de que são exemplos, o “Rio Sol”, o “Paralelo 8” e o “Vinha Maria”.

Com tintos, brancos, rosés e espumantes, para além da especialíssima Bagaceira Cabriz, a Global Wines / Dão Sul, faz honra à missão que lhe está subjacente e exporta os seus vinhos para grande parte da Europa, a América do Norte, América do Sul, Ásia, África e Médio Oriente. Até aqui, no interior de Angola onde, casualmente, nos encontramos agora.

O milenar vinho do Dão

Antes da partida dos portugueses para a conquista de Ceuta, foi servido vinho do Dão nos luxuosos festejos organizados pelo Infante D. Henrique em Viseu.” (Site Infovini).

Região Demarcada do Dão
A região vinícola do Dão, situa-se na Beira Alta, no centro Norte de Portugal. Uma área onde cerca de quase 20.000 hectares de vinhedos se desenvolvem a uma altitude que varia entre os 400 e os 700 metros, abrigada dos ventos pelas serras circundantes do Caramulo, Montemuro, Buçaco e Estrela e onde se produzem vinhos de excelente qualidade.

Como em praticamente todo o mundo, as vinhas da região do Dão eram desenvolvidas na Idade Média pelo clero. Muito gostavam deste tal néctar os monges e os padres!

Em 1908, a região era demarcada (a segunda em Portugal, a seguir à Região Demarcada do Alto Douro). 

Atualmente, com seis sub-regiões (Besteiros, Silgueiros, Castendo, Terras de Senhorim, Terras de Azurara, Alva e Serra da Estrela), apresenta uma grande diversidade de castas, onde predominam, as tintas, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro e Jaen e, as brancas, Encruzado, Bical, Cercial, Malvasia Fina e Verdelho. Os seus tintos são “bem encorpados, aromáticos e podem ganhar bastante complexidade após envelhecimento em garrafa” e os brancos “são bastante aromáticos, frutados e bastante equilibrados”.

Dão, uma região vinícola e gastronómica a visitar

Afamadas, as três rotas definidas do Vinho do Dão, são algo a não perder. 

Rotas do vinho do Dão
Rotas do Vinho do Dão
Uma primeira rota, que abrange Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, Mortágua, Santa Comba Dão, Tondela e Viseu, uma segunda que abrange Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, Lourosa, Nelas, Santar, Tábua e Viseu e ainda uma terceira que abrange Cepões, Mangualde, Penalva do Castelo, Sátão e Viseu. Uma visita em grande! Como dizia José Saramago, “tudo nestas paragens são grandezas.”

Bom, depois da amena conversa sobre esta região vitivinícola portuguesa, no meio de umas taças do tão saboroso Cabriz Tinto, Colheita Selecionada 2010, um último brinde.

À vossa saúde!

JB

Principais Fontes:
Suplemento do Diário Económico Nº. 5519, 27/09/2012, “Quem é quem nos vinhos em Portugal”.

Sunday, November 24, 2013

Os rótulos das garrafas de vinho e os consumidores

Rótulo e contra rótulo

Quando se fala de vinho é comum vir ao diálogo, o rótulo e o contra rótulo.

Não só entre nós mas, de uma forma generalizada por todos os países produtores (e consumidores) de vinho, trata-se de um assunto com alguma controvérsia, especialmente no que os mesmos devem conter, em termos de informação ao consumidor e do que é incluído, não raras vezes, apenas como instrumento de força de venda, sem o cuidado em prestar a informação adequada e correta.

Paralelamente, trata-se de um componente da garrafa que merece grande atenção dos produtores e designers, pela influência que pode vir a ter no resultado da venda.

Muito se tem falado acerca da seriedade – ou falta dela – do que os rótulos e contra rótulos nos costumam mostrar ou, pelo menos, nos deveriam colocar à disposição em termos de informação. Experimente-se, por exemplo, a escrever “rótulo e contra rótulo” no Google e surpreendem-nos uns cerca de 25 milhões de resultados.

Tipos de rótulos

Poder-se-ão considerar três módulos informativos, mais ou menos distintos, no conjunto de rótulos das garrafas de vinho: o rótulo propriamente dito, colocado no que se considera ser a parte da frente da garrafa, o contra rótulo (um rótulo menor, normalmente 1/3 do principal), colocado na parte inversa e o chamado “rótulo de gargalo”, uma etiqueta em volta do gargalo, normalmente indicando apenas a safra e, geralmente, o menos considerado.

Dependente do país de origem, do produtor, do designer, da moda ou corrente dominante, enfim, dos mais variados gostos e interesses, os vários rótulos apresentam-se bastante distintos, tendo em conta as principais funções a que se destinam: informar o consumidor e atraí-lo para a compra.

Com a sua origem e difusão a partir de meados do séc. XIX e tendo uma ascensão ligada, não só, a aspetos de ordem social e económica mas, também, ao surgimento de colas suficientemente fortes para a sua fixação, atualmente proliferarão por todo o planeta milhões de rótulos dos mais diversos feitios e estilos, com as mais variadas formas geométricas (desde o redondo ao quadrado), tamanhos e beleza. 

Se, dantes, a garrafa e o rótulo surgiam apenas em condições especiais, em vinhos especiais, para pessoas especiais, hoje são dois componentes tão importantes e decisivos na relação entre o produtor e o consumidor, talvez como o próprio vinho ou, ate mesmo, ainda mais importante.

O que devem conter e o que poderiam dispensar

Para além do que está regulamentado nos vários países produtores de vinho, não são raras as vozes que se têm pronunciado em favor do que os rótulos devem conter e do que se poderia evitar que tivessem. 

Hoje existem normas de rotulagem dos vinhos na União Europeia, variando o seu conteúdo de acordo com o tipo de vinho: branco, rosé ou tinto. Quanto ao açúcar, “seco, meio-seco, meio doce e doce”. No caso dos espumantes, também, brancos, rosés e tintos mas, em relação ao açúcar, “bruto natural, extra bruto, bruto, extra seco, seco, meio seco e doce. Contudo, cada um dos países produtores deverá ter organismos próprios para regular e fiscalizar o conteúdo dos rótulos. Em Portugal são as comissões de viticultura.

O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) disponibiliza, no seu site, informação sobre o que deverá constar nos rótulos, como “menção obrigatória” (marca, designação do produto, indicação de proveniência, referência ao engarrafador, volume nominal, título alcoométrico volúmico adquirido, referência ao lote e sulfitos) e como “menção facultativa” (referência à cor e utilização de pictograma). Clarificação idêntica é feita pela Infovinhos, também no seu site.

O útil e o dispensável

Informar o útil e tudo o que se pretende, obedecendo a regulamentações impostas e a uma estética que agrade ao consumidor, num espaço tão reduzido, implica arte e um considerável profissionalismo imposto pelos inúmeros designers.

É mais ou menos do senso comum que o conteúdo que essa família rótulo / contra rótulo deverá conter, terá por base uma informação correta e adequada para que, quem escolhe o vinho, possa saber, com a maior precisão possível, o que vai de facto ingerir, e em que condições preferenciais o poderá ou deverá fazer. No essencial, distinguir o que são conselhos úteis do que são meros trechos publicitários sem importância, com vista apenas à compra por parte do consumidor.

Entende-se informação útil e razoável, saber-se a proveniência ou zona de origem do vinho, as castas de fabrico, o produtor, o enólogo responsável, o ano da produção, os níveis de graduação alcoólica, para além de informações de índole técnico, como sejam, “valores analíticos”, “produtos adicionados”, “certificação orgânica” ou, até mesmo, processos de fabrico e envelhecimento ou estágio e, já mais discutível, sugestões de iguarias com que melhor poderá combinar, ou quando e como o vinho deve ser consumido. Tudo isto apresentado com clareza e pragmatismo informativo.

Papa Figos - Vinho Tinto da Casa Ferreirinha
Mas, inúmeras vezes, as informações prestadas não são mais do que meras intenções de persuasão do consumidor, desnecessárias, sem interesse, totalmente inúteis e, em alguns casos, mais a raiar o círculo da desonestidade. 

Luís Lopes, editor da revista de Vinhos em Portugal, num dos seus editoriais há cerca de quatro anos, retratou de forma muito interessante e com alguma ironia humorística, alguns tipos dessa mais desinformação que informação, contra rótulos que ele próprio classificou por temas, tais como: os “auto avaliativos”, de “falinhas mansas”, os “gastronómicos”, os “tecnológicos”.

Papa Figos não é só nome de uma ave de cores vivas

Já que hoje, a acompanhar umas sardinhas portuguesas ao almoço, me calha um “Papa Figos”, Douro tinto 2011, da Casa Ferreirinha, nem me vou preocupar com o que diz o tal de contra rótulo. Apenas vos faço um brinde com o desejo de que, enfim, os produtores, por esse mundo fora, continuem a respeitar o consumidor e nos vão fornecendo informações adequadas e úteis.

À vossa saúde!

JB

Principais fontes:

Monday, November 18, 2013

Angola: vinhos portugueses fáceis de encontrar

Uma viagem até Calulo

Numa visita de trabalho, deslocámo-nos recentemente a Calulo, uma pequena vila no interior de Angola, na província do Kuanza Sul, sede do município do Libolo.

Uma vila muito curiosa e interessante que se ergue a uma altitude que ronda os 990 m, no meio de um amontoado de serras que se elevam da planície litoral, numa paisagem tortuosa, de “ravinas e algares, boqueirões e lombadas, encostas de curva longa e larga e vertentes de corte a prumo, numa desvairada arquitetura, plurimórfica, impressionante, esmagadora.”

Descendo os degraus dessa escadaria de montes e colinas, até à planície, abraçam-na as margens do Kuanza, do Longa, do Luima e do Luinga.

Vale a pena visitar, dentro da vila, a famosa Fortaleza de Calulo, construída em finais do século XIX pelos colonos portugueses, como meio de defesa contra a resistência dos nativos locais à ocupação. Já depois da independência de Angola, serviu de refúgio defensivo às forças detentoras do poder na região. 

Também deve visitar a montanha Quiliematogi, que com os seus 1040 metros, oferece uma extraordinária panorâmica a todos que a sobem.

Vinho tinto da Quinta das Tecedeiras, uma boa companhia

Fazendo honra ao ditado “quem vai para o mar, avia-se em terra”, não quisemos arriscar, não fomos de mãos a abanar, e levámos connosco o Quinta das Tecedeiras. Um tinto do Douro, Reserva 2007. 

Talvez só o nome pudesse ser suficiente para quem está familiarizado com os bons vinhos tintos do Douro. No entanto, nada nos custa olhar o contra-rótulo e deixar aqui alguma informação mais. É que, se formos só nós a dizer que este vinho é uma excelente escolha, poderiam ficar algumas dúvidas.

Está escrito, que a Quinta das Tecedeiras, situada no coração do Douro e banhada pelo rio do mesmo nome, “é o «terroir» quase perfeito, com que todo o enólogo sonha para fazer o grande vinho. Aí, as uvas amadurecem bem, sem moléstias e com grande concentração de aromas e de sabores.”

Aproveitou bem o enólogo Carlos Lucas que nos apresenta, assim, um vinho que faz honra à importância das vinhas velhas, com cerca de cem anos, e mantidas na altura da reconversão das vinhas da quinta, já com o propósito de se virem a fazer vinhos especiais, como é o caso deste. 

De muitas castas, dominam a Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinha Barroca, Touriga Franca e Tinta Amarela.

Do produtor Quinta das Tecedeiras – Sociedade Vitivinícola, Lda. (Dão Sul), um vinho com um teor alcoólico de 14,50%, e que, segundo alguns entendidos, pode ser guardado por mais 10 anos. Ainda pensámos se o bebíamos logo ou o guardávamos, para ver como ele se comportaria ao fim de mais todos esses anos.

Mas, como pensamentos leva-os o vento, bebemo-lo, antes que fossemos apossados por essas ideias algo colecionistas, nada favoráveis aos nossos desejos, e com bastante pena de não termos levado umas garrafas mais.

A surpresa que já não é surpresa

Não levámos mais Quinta das Tecedeiras mas, agradavelmente, encontrámos o que já começa a ser normal, nestas viagens por Angola.

Numa curta visita apenas a dois dos muito poucos restaurantes da vila, encontrámos um interessante catálogo de vinhos portugueses.

Do Alentejo, os tintos Cartuxa e o E.A. 2011, o tradicional Reguengos, o Tapada dos Ganhões 2010, o Alabastro 2011 e o Monte Velho 2010. Ainda do Alentejo, um branco muito agradável, o Ardila 2009, da Herdade dos Arrochais. 

Também do Douro, o tinto Evel 2007, o branco Filoco 2010 e um Ferreira Porto Ruby. Ainda os verdes, Casal Garcia e Gazela. De Azeitão, o JP tinto 2012 e o Periquita tinto 2009.

Até o já aqui falado Sexy, produção Fita Preta. Se surpreendeu o VL, numa “visita a lojas de vinho para descontrair” (seu post de setembro / 2013), o que diremos nós, ao encontrá-lo nesta pequena vila no centro de Angola?

Talvez nada de especial, se tivermos em conta que, como espumantes, estava, não só o sul-africano J.C. Le Roux, mas o mundialmente famoso Moët Chandon.  

Em Angola produz-se vinho?

Se, o encontrarmos vinhos portugueses em qualquer lugar de Angola onde vamos começa a não ser surpresa, descobrir que em Angola se produz vinho, já poderá ser.

Nada ainda certo, mas acabámos por saber que a cerca de 40 minutos de onde estávamos, de carro, é claro, existe uma fazenda com produção de vinho. 

Será? Uma descoberta que fica para a próxima oportunidade. Produção de vinho em Angola?! Iremos procurar.

Como despedida, aconselhamos: não acreditem em nós. Procurem o tal Quinta das Tecedeiras e façam um brinde a valer.

À vossa saúde!

JB

Novembro | 2013

Friday, November 15, 2013

Dicas, para iniciados, na combinação de vinhos com comida

Simplificar a escolha

No post anterior "Porque pode haver diferenças no consumo de um vinho", já abordámos algumas questões relacionadas com as ideias que aqui vamos deixar e que esperamos possam ajudar os iniciados a escolher o vinho adequado para uma dada refeição.

O nosso objectivo é simplificar tanto quanto possível a tarefa, sem preocupações de profundidade ou erudição, apontando para aquilo que genericamente é aceite, pela maioria dos especialistas, como regras a observar.

O mesmo adjectivo, a mais simples das regras

Uma regra, que pode facilmente memorizar, é a de que se puder aplicar o mesmo adjectivo para qualificar a comida e o vinho, estará provavelmente a fazer a combinação acertada. Como exemplo, se o vinho é forte e a comida também, então a combinação será naturalmente adequada.

O problema aqui será qualificar o vinho, já que com a comida temos uma maior experiência e mesmo sem a vermos, sabemos logo se é leve, pesada, doce, amarga, salgada ou picante, devendo a combinação fazer-se com a predominante.

Assim, para quem não tem experiência na degustação de vinho, vamos tentar dar algumas pistas, partindo das castas mais comuns em Portugal, para conseguirmos um efeito semelhante, reduzindo, drasticamente, as combinações a memorizar.

Problema com a identificação das castas

O problema com as castas é que elas podem ter diferentes designações, de acordo com as regiões, ou países, o que dificulta muito a tarefa de quem está a tentar fazer a interpretação.

A título de exemplo, a casta Tinta Roriz, pode ser também denominada em Portugal por Aragonês e em Espanha por Tempranillo. Algumas castas, como a Pinot Grigio, terão dezenas de designações e até a muito portuguesa Touriga Nacional, é também conhecida, entre outras, por Tourigo Antigo e Tourigo.

Dificuldade acrescida com os vinhos de lote

Embora sejam cada vez mais frequentes os vinhos feitos com uvas de uma só casta, normalmente um vinho é produzido a partir de várias castas, o que acrescenta dificuldade a este processo, por mais que gostássemos de o manter simples.

Acresce que algumas castas não têm praticamente nenhuma versão de vinho monocasta, uma vez que são usadas, quase exclusivamente, para combinar com outras, produzindo vinhos mais equilibrados.

Apesar de todos os problemas e com todo o cuidado que merecem as nossas dicas, acreditamos que podem ser úteis aos iniciados, pelo que as passamos a apresentar.

Sugestões de combinação de castas e comidas

Exemplos para vinhos brancos:

  • Champanhe (salgados; aperitivo)
  • Pinot Grigio (pratos de marisco leves; aperitivo);
  • Chardonnay (peixes gordos; marisco com molhos trabalhados com manteiga);
  • Alvarinho (frutos do mar; mexilhões; polvo; bacalhau);
  • Arinto (carnes brancas; marisco);
  • Encruzado (marisco; risotos; peixe).

Exemplos para vinhos tintos:

  • Malbec (suficientemente encorpado para comidas muito picantes, feitas no forno ou grelhadas; carnes vermelhas; costeletas de carneiro);
  • Pinot Noir (pouco encorpado, mas cheio de sabor, combina com pizzas; sabores da terra, como cogumelos e trufas);
  • Cabernet Sauvignon (carnes vermelhas, não excessivamente passadas; pastas; queijos com sabor forte);
  • Syrah (comida picante; grelhados apaladados);
  • Castelão (carne assada no forno; comida picante);
  • Tinta Roriz (grelhados; carnes vermelhas e vegetais);
  • Touriga Nacional (carne de vaca; bife; outros pratos que fiquem bem com o seu normal gosto amadeirado);
  • Trincadeira (grelhados).

Conclusão

Esperamos que as dicas que apresentamos possam ajudar nas suas escolhas e contribuam para um melhor conhecimento sobre vinho e o seu consumo.

Lembramos que o seu gosto particular deve prevalecer, mesmo que contrarie as sugestões dos especialistas e que melhor do que uma adequada combinação de vinho com comida, é combinar os dois com as pessoas de quem gosta.

À sua saúde

VL

Novembro | 2013