Monday, September 30, 2013

Ribatejo, sempre uma boa opção gastronómica e vinícola

Festival de gastronomia à porta

Ao aproximar-se mais um dos grandes eventos culturais de Portugal, em termos gastronómicos, vem-nos mais uma vez à memória a excelência da cozinha portuguesa.

Recordamo-nos dos afamados vinhos, dos espirituosos, licorosos e portos mas, também, dos deliciosos enchidos, queijos e presuntos, dos frescos mariscos, dos inconfundíveis sabores dos pratos de carne e de peixe, toda a doçaria, a fruta, o pão, as azeitonas, etc., etc. Um oceano infindável de sabores, mais que agradáveis: divinais!

De 25 de outubro a 3 de novembro, tudo nos delicia. Do Minho e Trás-os-Montes ao Algarve, dos Açores à Madeira, são 10 dias de virtuosos momentos gastronómicos – e não só -, de grande nível internacional. É o 33º. Festival Nacional de Gastronomia de Santarém.
Desde 1981 que Santarém nos brinda com esta majestosa tribuna de boa gastronomia, vinda de todo o país e, por vezes, de alguns países lusófonos, tal como Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, não esquecendo os nossos hermanos da vizinha Espanha.


Hoje, embora sem perder a tradição do que era, tudo é sofisticado, se comparado com aqueles primeiros anos, em que nos sentávamos em fardos de palha, que também serviam de mesa e onde, nalguns casos, comíamos nos espaços das boxes das desativadas cavalariças. Era tudo tão diferente, mas muito bom, de tal forma que, quando acabava, estávamos sempre ansiosos que o próximo festival viesse rapidamente. Já na altura sabíamos que era um evento para durar anos e anos e sempre cada vez melhor. A prova, aí está. É só dar um pulinho à Casa do Campino em Santarém e certificarem-se cada um por si só.

Vinho dos Deuses

Há dias, num outro post deste blogue, fez-se uma referência aos "Deuses do vinho", às suas lendas e à ancestral ligação do vinho com a divindade.

Nessa continuidade e já que é do Festival Nacional de Gastronomia de Santarém que falamos, aventuramo-nos a apresentar aos deuses um itinerário vinícola ribatejano, onde poderão apreciar os bons vinhos produzidos na lezíria, na charneca e na zona de bairro.

Os tintos DOC, provenientes de castas tradicionais da região, como a Trincadeira e a Castelão e de outras castas nobres, como a Touriga Nacional, a Cabernet Sauvignon ou a Merlot. Os brancos, da casta Fernão Pires e, não raras vezes, completados com castas típicas da região, como a Arinto, a Tália, a Trincadeira das Pratas e a Vital ou, ainda, a internacional Chardonnay.

A acompanhar uma gastronomia para ser apreciada ao longo de todo o ano, em variadíssimas condições e com especiais companhias, consegue-se visitar um vasto número de adegas e casas agrícolas, nas várias sub-regiões da Denominação de Origem do Ribatejo (Almeirim, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Santarém e Tomar), onde produtores e enólogos se esmeram para conceber o que de melhor há em vinho.

Sem esgotar o leque das possíveis e com desculpa às omitidas (não por falta de admiração), lembramos apenas algumas das boas adegas do Ribatejo. A sul do Tejo, começamos em Benavente, pela Companhia das Lezírias, para seguirmos à Casa Agrícola Monte Real em Salvaterra de Magos. Na região de Almeirim as, Casa Cadaval, Fiúza & Bright (também em Alcanhões, Romeira e Azambuja), Casal Branco, Quinta do Casal Monteiro, Quinta da Alorna e Falua. Em Alpiarça, a Sociedade Agrícola da Quinta da Lagoalva de Cima, a Casa Agrícola Paciência e a Pinhal da Torre.

Atravessado o Tejo, podemos visitar, mais a sul, a Sociedade Agrícola de Vale de Fornos, em Azambuja e a Vale d’Algares, no Cartaxo. Mais a norte, a Quinta de S. João Batista, em Torres Novas, a Quinta do Coro e a Quinta Vale do Armo, no Sardoal e a Encosta do Sobral em Tomar. Mais a oeste, em Rio Maior, a Sociedade Agrícola João Teodósio Matos Barbosa e Filhos.

Para além de diversas adegas cooperativas que, sem dúvida, muito contribuem para o desenvolvimento vitivinícola ribatejano - e nacional -, fazemos ainda especial referência à adega da Escola Superior Agrária de Santarém, com excelentes vinhos, produzidos sob o mando dos alunos da escola, fazendo honra ao seu percurso estudantil.

Com tantos produtores ribatejanos, vinhos bons há muitos, vários premiados e para todos os gostos, por mais requintados e exigentes que se imponham. Os deuses que escolham…

Uma escolha nada fácil

Levado pelo desejo do tão delicioso néctar ribatejano, não queria ficar de mãos a abanar ou, melhor dizendo, de garganta seca. Então, fui à procura.

A uma distância que ronda os 5.800 km (em linha reta porque por via terrestre parece que serão à volta de 16.700 km ou, a cerca de 3.591 milhas, se for de avião ou, ainda, 3.120 milhas náuticas, se for de barco), acabei por encontrar um vasto leque de vinhos ribatejanos: o Quinta da Lagoalva Tinto Reserva 2010, o Vale D’Algares Selection Tinto 2007 e o Guarda Rios Branco 2006.

Numa Boutique Alimentar situada numa zona nobre da cidade de Luanda, o Miramar, pode-se escolher vários vinhos tintos ribatejanos de grande qualidade. Da Quinta de S. João Batista, os QSJB Reserva Syrah 2007, 2009 e 2010, QSJB 2008 (Special Selection), das Caves Velhas o Serradayres Reserva 2010 e o Serradayres Reserva 2012. Ainda, o Casaleiro Reserva 2010 e o Casaleiro Reserva 2011 (Enoport), o Faces 2008 (Pinhal da Torre), o Conde de Vimioso Colheita Selecionada 2010 (Falua) e o Encosta do Sobral Reserva 2005.

À gerente da Boutique, a D. Helena Gomes, uma nota especial de agradecimento, pelo carinho que me dispensou na procura dos vinhos.

Sendo o toiro bravo um dos símbolos da lezíria ribatejana, acabei por escolher o Cabeça de Toiro Reserva 2009. Qualquer surpresa, se fosse o caso, só podia ser agradável. Um vinho das Caves Velhas, produzido (diz no contra rótulo) “a partir das mais emblemáticas castas portuguesas Touriga Nacional (50%) e Castelão (50%), estagiou 9 meses em barricas novas de carvalho Francês enaltecendo a sua intensidade e complexidade. Apresenta cor granada bem definida, aroma intenso e sabor pujante, envolvente e harmonioso.”
E como nem só de vinho vive o homem (alguns é quase), acompanhei-o com um chouriço tradicional de vinho da Quinta Jugais, da Serra da Estrela e uma broa de milho, fabrico angolano.

Despeço-me com um brinde e o forte desejo de nos encontrarmos todos no 33º Festival Nacional de Gastronomia de Santarém.

À vossa saúde!

JB

Setembro | 2013


Wednesday, September 25, 2013

Uma surpresa da Bairrada

Alargar horizontes na escolha de vinhos

Sou um apreciador e consumidor de vinho  limitado nos conhecimentos e  nas escolhas mas com uma curiosidade enorme em conhecer novas opções e sem medo de arriscar em novas experiências, tendo, por isso, já  apanhado algumas decepções mas, em contrapartida, alargado os meus horizontes nessa matéria.

Até há poucos anos o meu universo fixava-se quase em exclusivo nos vinhos do Alentejo e Douro. Por curiosidade, fui experimentando vinhos do Dão, do Ribatejo e Sado, concluindo pela excelência de muitos vinhos destas regiões e hoje não tenho nenhuma reserva em relação aos mesmos.

Vinho da Bairrada não é só "frisante"

Uma das regiões que menos tenho visitado nas minhas experiências de degustação é a Bairrada. Associo sempre essa região ao vinho “frisante”, servido para acompanhamento do melhor leitão do mundo, pelo que nas cartas de vinhos apresentadas nos restaurantes passo sempre à frente na página relativa aos vinhos da Bairrada.
Num almoço de amigos realizada há poucos dias num restaurante de Lisboa quando chegou o momento de escolha do vinho (tarefa que   simpaticamente me foi endereçada) fui confrontado com uma carta em que os preços dos vinhos que normalmente bebemos se apresentavam demasiado elevados para a ocasião e para o orçamento dos presentes.

Vinho da casa, escolha anormal

Em desespero olhei para o “vinho da casa” com um preço anormalmente baixo para o tipo de restaurante (7,5€/garrafa), totalmente desconhecido para mim e, mais grave, da Bairrada!
Perante a minha hesitação um dos convivas encorajou-me, referindo que já aí havia bebido esse vinho e que gostara.
Perante este encorajamento, decidi arriscar e um pouco aliviado porque se o vinho não servisse a perda também não seria grande. Tinha, aliás, já decidido o que escolhia a seguir na provável hipótese  de o vinho não reunir os requisitos mínimos para acompanhar a divinal alheira de caça com grelos por que a maioria de nós havia optado.

Vinho do Putto tinto, uma surpresa.

Para surpresa minha, o vinho foi aprovado com boa nota, revelando-se  suave, encorpado qb, fresco e com agradáveis notas de fruta madura.  Todos ficámos agradados com o vinho e com o preço. E eu, adicionalmente, aliviado por ter superado com sucesso a prova da escolha.
Aqui vai então a informação sobre esse vinho.
Tratou-se do Vinha do Putto tinto, feito com castas variáveis em cada ano,  incluindo, entre outras : touriga nacional, sirah, tinta roriz, trincadeira da Bairrada, cabernet sauvignon, pinot noir e merlot.
É produzido pela Adega Campo Largo, Quinta de São Mateus, em Anadia.
Este vinho merece o lugar na nossa galeria de experiências por o considerar um dos vinhos com melhor relação preço/qualidade que tenho bebido nos últimos tempos.
Costumo dizer que o difícil  em Portugal não é escolher bons vinhos. O difícil é escolher bons vinhos e baratos.
Fica aqui o meu contributo.
MF
Setembro | 2013

Monday, September 23, 2013

Vinto tinto Grilos 2009, sugestão vinda de Angola

Os deuses do vinho

Num artigo recentemente publicado no seu Facebook, um dos nossos seguidores socorreu-se da mitologia para demonstrar a importância e centralidade do vinho nas diversas civilizações, desde a antiguidade até aos nossos dias (ver artigo completo).

Baco (ou Dionísio) para além de Deus do vinho, era-o também das festas, do lazer, do prazer, da folia, do tumulto e da natureza.

Era também símbolo da vida instintiva, dos ciclos vitais, da ebriedade, da insânia, dos excessos e, sobretudo, dos efeitos que a sua ingestão provoca no estado de espírito do bebedor, fazendo-lhe fundir a sua essência de humano com o poder da divindade.

Curiosa definição de um Deus que espelha na perfeição tudo o que o vinho pode ser, dependendo de quem o consome, da época em que é consumido, do excesso do seu consumo e da forma como a sociedade encara esse consumo.

A vida é curta demais para se beber mau vinho

Segundo o artigo, o consumo do vinho pode resultar de tradição ritualística, de necessidade de afirmação nas relações de consumo, de distinção social, do desejo de incremento de uma relação com o outro, de maior envolvimento espiritual ou sensório.

Existirão essas e outras razões, mas aqui no blogue, sejam quais forem os motivos porque se consome, defendemos o seu consumo, desde que moderado, na companhia de pessoas de quem gostamos e já agora, desde que tenha alguma qualidade, porque a vida é curta demais para se beber mau vinho.

Um vinho divinal, com produção limitada
Felizmente, em Portugal produzem-se dos melhores vinhos do mundo, sendo muitas as opções à nossa disposição. Pena a dimensão do País não permitir uma maior produção, porque não faltam em todo o mundo consumidores admiradores do vinho português, tanto estrangeiros, como portugueses expatriados ou emigrantes.
Aparentemente porque o nosso seguidor gosta de juntar a teoria à prática, no artigo que temos vindo a comentar, recomenda-nos o Grilos 2009, um vinho tinto do Dão, estagiado em barricas de carvalho francês durante 6 meses, produção limitada da Sociedade Agrícola de Casal de Tonda.
O Grilos 2009 é um vinho produzido a partir das castas Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz. Da sua ficha técnica consta que "no aroma, ao floral com leve compota e chocolate juntam-se a amora, figo seco e caramelo. Bastante macio na boca, com taninos redondos, boa frescura, um tinto sumarento, leve, fresco e longo".
Para fazer jus ao tema do artigo, temos a certeza que será divinal.

VL

Setembro | 2013

Tuesday, September 17, 2013

Visita a Lojas de Vinho para descontrair

Descoberta de bons vinhos

A visita a livrarias ou lojas de vinho é um processo que faz parte da minha rotina e que não visa diretamente a compra, mas sim obrigar-me a pensar noutros assuntos e desviar-me um pouco da pressão dos temas profissionais.

Há uns anos atrás, após refeição ligeira e para não regressar de imediato ao gabinete de trabalho, aceitei o convite de um amigo para ir a uma loja de vinhos que se situava próximo do local onde então trabalhava.

Existia entre os donos do estabelecimento e esse meu amigo uma relação de amizade, alimentada por muitos almoços e jantares, onde a experimentação de vinhos era sempre o ponto mais alto.

Tratava-se de um casal que se revezava à frente do estabelecimento, pelo que umas vezes era o marido que estava presente e outras a mulher, sendo que dessa vez quem estava de serviço era a senhora.

O processo tinha um ritual: algumas perguntas sobre as novidades, visita às promoções para ver se existiam boas oportunidades de compra e por último uma passagem por todas as prateleiras.

Syrah 2008 Reserva, sugestão acertada


A sugestão desse dia foi o Syrah 2008 Reserva, produzido e engarrafado na Herdade dos Outeiros Altos, que estava a excelente preço e que tinha acabado de ganhar a medalha de ouro do Syrah du Monde, 2011. Possuo ainda em casa um das seis garrafas que então adquiri, para abrir quando me visitarem amigos meus, apreciadores dessa casta.

Vinho Sexy, foi a surpresa

Mas o que então prendeu a nossa atenção, foi um vinho que exibia no seu rótulo a palavra Sexy e que nós estávamos a ver pela primeira vez (o vinho já existia há uns anos e é produzido pela FitaPreta). 

Entre os dois comentámos que não era um nome muito adequado para vinho, dado estarmos habituados às designações mais tradicionais dos vinhos portugueses e o rótulo rosa vivo também não nos convenceu.

Percebendo a nossa hesitação, a dona da loja, tal como qualquer bom vendedor marroquino e sem que lhe tivéssemos feito qualquer pergunta, disparou que o podíamos levar porque era um excelente vinho.

Mais confiantes, lá analisámos o rótulo e convencidos pelo parecer da dona do estabelecimento, decidimos levar umas garrafas para experimentar.

Como me lembrei que tinha no fim de semana seguinte o aniversário de um amigo, mandei logo embrulhar uma, para servir de prenda e para me divertir com a reação dele à designação do vinho.

A prenda produziu o efeito que esperava no meu amigo, ao ponto de não querer abrir a garrafa porque a queria ter em lugar de destaque da sua garrafeira.

A garrafa que me restou foi consumida mais tarde, com agrado geral, num almoço de amigos, confirmando a opinião da dona da loja de que tratava de um bom vinho. 

A combinação de Touriga Nacional (40%), Syrah (25%), Aragonez (25%) e Cabernet Sauvignon (10%), castas nacionais e francesas, resultou num vinho de aroma muito agradável e que ligou muito bem com a carne assada, também ela divinal, que consumimos nessa refeição.

Uma vez mais se confirmou que nos vinhos, como em tudo na vida, não são os rótulos que contam, mas a qualidade do produto. Mas se calhar se não fosse o rótulo ...

VL

Setembro | 2013

Thursday, September 12, 2013

Vinho Moscatel, presença habitual nas tertúlias

Vinho Moscatel mais conhecido

O vinho Moscatel, apesar de há muito fazer parte dos hábitos de consumo dos portugueses, parece estar ultimamente cada vez mais presente nas tertúlias.

A versão mais conhecida é como vinho doce, sendo servido fresco, como aperitivo, ou mesmo após a refeição. Fica muito diferente misturado com cerveja, muito, muito fresco, ideal para dias quentes, onde o contraste entre o doce e o amargo resulta particularmente agradável.

Região do Douro e Região de Setúbal

A rivalidade no vinho Moscatel, entre o Douro, em especial Favaios e a zona de Setúbal, particularmente na zona Palmela/Azeitão, é conhecida, aparecendo sobre várias formas e paladares, com preços muito diversificados e com diversos prémios internacionais já conquistados.

O vinho Moscatel tem outros caminhos

Muito recentemente, na inauguração da nova casa de um amigo, fui apresentado à versão em vinho branco, Moscatel Galego, com origem no Douro, em zonas bem determinadas. Destaco, sem ser exaustivo, os da Quinta Nova e da Quinta do Vallado. É um vinho bem interessante, com um sabor intenso, que se recomenda.

Vinho Moscatel Roxo

Outra versão também de destacar é a do Rosé, Moscatel Roxo, que apenas provei a da Adega José Maria da Fonseca, Domingos Soares Franco Colecção Privada. Esta versão vai muito bem a acompanhar refeições mais ligeiras, ou por exemplo umas amêijoas.

Tem caraterísticas muito particulares. A cor é muito clara, próxima do salmão, o paladar é muito frutado e com pouca acidez, com aroma muito tropical. Quer se goste ou não de Rosé, é para não perder pois vale a pena experimentar, sendo o único senão a dificuldade, por vezes, em encontrá-lo.

Em resumo, Moscatel para várias ocasiões, uma presença cada vez mais habitual num bom convívio.

RM

Setembro | 2013

Monday, September 9, 2013

Adegas da região de Beja


Passeio todo-o-terreno com prova de vinhos

Há algum tempo resolvi participar num passeio todo-o-terreno na região de Beja, organizado por um conjunto de amigos, amantes da modalidade e aí residentes.

O passeio tinha como aliciantes, para além do convívio, a passagem por locais de extraordinária beleza na planície alentejana e umas provas de vinho a realizar em adegas da região.

A organização do passeio revelou-se inexcedível nos pormenores: pontualidade, briefing inicial, pontos de paragem para degustação de produtos alentejanos, paragem em duas adegas de renome, ritmo tranquilo mas certo.

Como não tenho viatura adequada, acabei na de colega experiente nestas andanças, ficando com a função de co-piloto. Para o efeito, recebi uma carta que teria de ler para dar indicações ao piloto sobre o caminho a seguir.

Herdade do Rocim deslumbrante

Tudo correu bem até à chegada à primeira prova de vinhos, que aconteceu na Herdade do Rocim, situada entre a Vidigueira e Cuba.

Entusiasmado com as peripécias do passeio e agradavelmente surpreendido pela beleza das vinhas e arquitetura do local, que então me pareceu mais um bunker de xisto, do que uma adega, acabei, como todos os outros, por experimentar a maioria dos excelentes vinhos.

Depois de uma pequena pausa para as normais compras, regressámos novamente à estrada de campo que nos permitiria chegar ao destino final, a Casa Santa Vitória, propriedade do Grupo Vila Galé.

Encantado com a paisagem, à qual passei a dar mais atenção do que à carta e entorpecido pelas múltiplas provas, várias vezes me esqueci de passar as corretas instruções ao piloto, o que motivou que nos tivéssemos perdido diversas vezes.

Felizmente os telemóveis fazem milagres e acabámos sempre por regressar ao grupo, normalmente nos locais preparados para degustar um bom pão alentejano, acompanhado de azeitonas, vinho regional e bons enchidos.

Percurso alternativo para o Clube de Campo

Por fim, restava o último troço, que nos conduziria ao destino final, mas que distava uma hora e meia, pela estrada de campo, do local onde então nos encontrávamos.

Perdidos uma vez mais, decidimos dirigir-nos pela estrada nacional diretamente para o Clube de Campo da Vila Galé, ficando aí a aguardar pelos restantes amigos.

Pelo telefone tranquilizámos a organização, dando nota que estávamos a passar por todos os pontos, pelo que deviam seguir o seu caminho sem se preocupar connosco, o que foi aceite devido ao meu colega de viatura ser de Beja e conhecer bem o local. 

Prova  de vinho na Casa de Santa Vitória

Realmente não era caso para se preocuparem e essa foi a única verdade, porque nesse preciso momento já estávamos no Clube de Campo a usufruir daquele agradável espaço e calmamente a fazer a prova dos diversos vinhos da Quinta de Santa Vitória: Versátil, Santa Vitória e Inevitável.
 
Claro está que quando os nossos amigos chegaram, perceberam que não fizemos todo o percurso e a organização desclassificou-nos, apesar de termos argumentado que tinham sido todos os outros a enganar-se e não nós. Enfim, injustiças.

Recordo esse dia pelos excelentes momentos de convívio, pelo prazer da visita a duas belíssimas adegas onde nunca tinha estado e pela prova dos seus excelentes vinhos.

Se por acaso não conhecem a Herdade do Rocim ou a Quinta de Santa Vitória, aproveitem para as visitar e deixem-se deslumbrar pelos agradáveis espaços e pelo excelente vinho da região. Vão ver que é tempo bem passado!

VL

Setembro | 2013

Friday, September 6, 2013

Cruz Miranda - Um vinho bom companheiro


Recordação de um grande vinho

Num dos meus momentos livres, dei uma olhadela pela minha caixa de recordações gastronómicas e deparei com um almoço, realizado num restaurante em Queijas há alguns anos, com dois amigos, para fecho de um projecto profissional bem sucedido.

Como habitualmente naquele restaurante, deixámos ao critério do chefe de mesa a sugestão do menú, incluindo o vinho.

Para acompanhar um prato de carne, foi-nos sugerido um vinho alentejano que nunca tinha ouvido falar - Cruz Miranda 2001.

Tudo no vinho foi novo para mim – a graduação, a casta, o sabor, o aroma…

Tratava-se de um vinho alentejano, produzido na Herdade das Cepas, exclusivamente da casta Alfrocheiro Preto e com 15 graus.

A experiência foi excelente pois o vinho combinou muito bem com a carne e um queijo forte no fim, ajudando à criação de um ambiente e de um almoço inesquecíveis.

De tal maneira que cada um de nós trouxe uma garrafa para beber  mais tarde.

Cuidado com os efeitos colaterais

O único senão foram os efeitos colaterais. Tivemos alguma dificuldade em dar com o caminho de regresso a Lisboa e o elemento do grupo que vinha a conduzir revelou uma condução bastante errática. Admito que estes problemas não decorressem da qualidade, mas da quantidade de bebida…

Desde então, sempre que passo por uma garrafeira, dou uma vista de olhos para  tentar  comprar algumas garrafas desse vinho, mas não tenho tido sorte.

Desconheço se a adega entretanto fechou ou se a produção desse vinho foi interrompida, pelo que continuo a tentar porque persiste esse registo na minha memória.

Se forem mais afortunados que eu e o encontrarem, bebam um copo por mim.

MF

Setembro | 2013

Tuesday, September 3, 2013

Licores e vinhos açorianos

A magnificência da Terra


Enterram-se as garrafas de vinho com medo que as roubem. Ao fim de algum tempo desenterram-se a pensar que o líquido está estragado e, em vez disso, a senhora Terra devolve-o, mais saboroso e com características únicas, apenas por o ter mantido longe da luz solar e numa temperatura regular adequada.

Esta é boa! Já tinha ouvido dizer que há vinhos que até dão vida aos mortos, agora “vinho dos mortos”, essa nunca …

Desiludam-se aqueles que ainda pensavam que o mundo subterrâneo era apenas para sustentar o nosso peso e para servir de abrigo a alguns animaizinhos esquisitos, tal como as toupeiras e as minhocas, os ratos ou até mesmo os coelhos.

Aquela parte do subsolo que fez daquele vinho um líquido apreciado pelo mais comum dos mortais, faz parte duma biomassa subterrânea, com mais vida do que toda a superfície terrestre, talvez com mais do que duas centenas de triliões de toneladas de seres vivos e, dizem alguns, para além de ter, provavelmente, algumas das chaves para diversos mistérios da ciência.

Pudera! Uma massa com cerca 5,974 x 10 elevado a 21, toneladas, com um raio próximo dos 6.400 km, não era para menos! Só aqui tão perto, a cerca de 160 kms da superfície da Terra, já com uma temperatura que pode exceder os 1.200º C, se formam os tão desejados diamantes que tanta gente fascinam. A maioria deles, talvez, formados à milhões, ou até biliões, de anos. São velhos. Pois são. Mas são, entre muitas outras coisas, o mineral conhecido mais duro do planeta.

… E ainda há quem fale nos intra-terrestres, civilizações que, teoricamente, muito mais avançadas que a nossa desde há milhares de anos, habitariam o interior da terra, mesmo tendo em conta as condições extremamente adversas. Adversas para alguns de nós, é claro! O desconhecido é, normalmente, adverso.

O cozido à portuguesa de S. Miguel 

O que é que isto terá a ver com o vinho? Nada, nada mesmo. Só que ao ter lido que o interior da terra, na região de Bragança, tinha feito o tão afamado “vinho dos mortos”, lembrei-me dum prato típico português, mais propriamente açoriano, que é cozinhado dentro da terra: o cozido à portuguesa, da Lagoa das Furnas de S. Miguel, nos Açores.

Não vou dar receita nenhuma, porque podem procurá-la na internet ou, melhor ainda, irem lá prová-lo mas, para quem não sabe, no cozido à portuguesa feito nas Furnas de S. Miguel, metem-se todos os ingredientes normais do cozido dentro duma panela de alumínio, sem água, tapa-se atando a tampa às asas da panela, mete-se dentro duma saca, amarrada com uma corda comprida, introduz-se a panela numa caldeira natural da Lagoa, tapa-se a caldeira com uma tampa de madeira e depois com terra, deixando a corda de fora. Tudo fica a cozer com o calor do vulcão.

Bom, hoje é assim, porque antigamente os ingredientes eram metidos no interior duma galinha inteira, ficando apenas de fora o que não coubesse dentro dela. Ainda gostava de provar este!

Passadas entre cinco a oito horas, pode-se comer o cozido. Eu falei do cozido à portuguesa mas, para quem não gosta, tem mais algumas especialidades, tal como a caldeirada de bacalhau. Para se almoçar a horas decentes temos que nos levantar de madrugada. Tanto tempo à espera? Isso mesmo. E é aqui que entram os licores de S. Miguel, em primeira mão, e depois os afamados vinhos.

Licores e vinhos açorianos

Enquanto esperamos todo esse tempo pelo pitéu, podemos ir saborear alguns dos apetecidos licores caseiros da “Mulher de Capote e Ezequiel”, de S. Miguel (Ribeira Grande): de ananás, amora, banana, um licor ou brandy de maracujá, ou ainda um vinho abafado ou um licor de anis. Bom, mas se os de S. Miguel não chegarem, podemos provar ainda um Lajido do Pico. Porque não? Antes de almoço cai bem, um licoroso “que levou o nome da Ilha do Pico às mais requintadas mesas da América e da Europa, até à corte dos Czares das Rússias.” Está escrito nalgum lado.

Calma… Nada de abusos, porque o cozido à portuguesa deve estar pronto e agora vêm os vinhos. Alguns premiados! O suficiente por onde escolher e para muitos gostos: o Quinta de Jardinete 2011, um branco de Fenais da Luz (Ponta Delgada, São Miguel); o Insula 2012, um rosé de São Mateus (Madalena, Pico); ou alguns “brancos «exóticos», únicos de grande qualidade” de “castas nobres dos Açores: Verdelho, Arinto dos Açores e Terrantez do Pico”. Dessa ilha do Pico, um Terras de Lava, branco 2011; um Frei Gigante, branco 2011; ou um Muros de Magma, branco 2011.

Para os experimentadores ainda temos o “vinho de cheiro”, vinho sempre do ano.
Ficamos por aqui senão, daqui a pouco, não se sabe quem vai levar o carro até Ponta Delgada … É que, depois de se deliciar com uma boa fatia de ananás, ou um bem doce maracujá, para terminar a grande almoçarada, pode saborear um licor “Cappuccino”, à base de natas, a quem chamam o “Queen of the Island”, ou acabar com uma aguardente “Velhíssima”. Fim de refeição.

Tudo dos Açores. Desculpem-me, mas trabalhei nessas nove ilhas maravilhosas, nove anos (de 1998 a 2007) e das seis que eu conheço, é tudo bom.

A Lenda

A população tentou explicar as formações geológicas da ilha de S. Miguel feitas pelos vulcões e, por isso, a Lenda da Lagoa das Furnas. Reza a lenda que as pessoas da ilha acreditam que os aldeões que viviam no lugar que foi soterrado pelo vulcão, e onde é hoje a Lagoa, continuam a viver lá debaixo e que as borbulhas do gás vulcânico que sai da água, são eles a cozinhar lá no fundo. Será que é o lume que eles fazem que cozinham tão boa refeição? Ninguém saberá …

Este extraordinário planeta é mesmo uma enorme caixa de surpresas! Já ouvi isto nalgum sítio…

JB

Setembro | 2013