Wednesday, October 30, 2013

Porque pode haver diferenças no consumo de um vinho

Emparelhar vinho e comida

Já lhe aconteceu um vinho que o tinha impressionado, não lhe ter agradado tanto numa segunda experiência?

As razões para tal acontecer são inúmeras, muitas delas relacionadas com o seu estado de espírito, com o ambiente em que o consumo ocorreu, ou ainda com  a companhia com quem partilhou a experiência.

Para tornar as coisas mais fáceis, vamos afastar as razões emocionais e tentar identificar outras razões para tal ter sucedido, socorrendo-nos das regras sobre como emparelhar vinho e comida, reforçadas por aquilo que os especialistas dizem sobre o assunto.

Devemos combinar sabores contrastantes ou complementares?

Os especialistas dividem-se em relação a este tema. Uns defendem  nas suas combinações propostas complementares, outros defendem propostas contrastantes.

Assim, podemos encomendar vinho que contraste ou que complemente o sabor da comida. Por exemplo, um vinho doce pode contrastar com o salgado de um pacote de batatas fritas ou pode amaciar o gosto intenso do queijo.

Admitindo que não tem ideias fixas em relação a este tema, lembre-se da combinação que seguiu na degustação de um vinho que lhe tenha agradado, porque caso a tenha alterado poderá ter sido essa razão para a menos boa experiência.

Que combinações devemos fazer com peixe e com carne?

Uma regra antiga, que todos conhecemos, é a de que com peixe vão melhor os vinhos brancos e com carne combinam melhor os vinhos tintos. Em Portugal abria-se uma excepção para o bacalhau, que tanto podia ser acompanhado por vinho branco ou vinho tinto.

Esta regra será sempre útil para quem não tenha um conhecimento profundo sobre o tema e pretenda ter voz activa na escolha do vinho que vai ser feita por si ou por um grupo de amigos.

No entanto, as coisas alteraram-se nos últimos anos e alguns especialistas não seguem as regras rígidas de vinho tinto com carne e vinho branco com peixe. 

Assim, terá que se lembrar de qual a combinação que fez quando consumiu o vinho que o tinha impressionado e se a alterou no momento do consumo posterior.

A que temperatura o vinho deve ser servido?

Uma regra antiga e simples de memorizar é a de que o vinho deve ser consumido à temperatura ambiente do local onde nos encontramos, assumindo-se que os brancos devem ser consumidos a temperaturas inferiores às dos tintos.

Para o conseguir, outra regra simples consiste em retirar o vinho branco do frigorífico 15 minutos antes de ser consumido e o vinho tinto ir para o frigorífico 15 minutos antes da sua degustação. Neste último caso, o vinho pode ser sempre aquecido pela nossa mão, se estiver um pouco abaixo da temperatura da nossa preferência.

Também a temperatura do copo pode influenciar, assim como a duração da refeição, uma vez que o vinho pode ir aquecendo, naturalmente, no decorrer da mesma.

No entanto, segundo os especialistas, consumir à temperatura ambiente nem sempre é uma boa referência, isto porque ao longo do ano as temperaturas ambientes sofrem alterações e porque se pode alterar também o ponto do mundo onde o vinho está a ser consumido.

Lembra-se da temperatura a que consumiu o vinho que lhe despertou a atenção pela primeira vez? Caso tenham existido alterações, poderá ser essa a razão para as diferenças que sentiu nos consumos seguintes.

Combinação varia com o ponto do globo onde se consome?

Uma regra simples será analisar como os locais combinam os vinhos com os seus pratos tradicionais e imitar as suas escolhas, dado que o método de preparação e os molhos são factores importantes que influenciam o nosso palato.

Recorda-se da região do mundo onde consumiu o vinho? Poderá ser esta outra das razões para a apreciação menos favorável nos consumos subsequentes.

Comida leve ou pesada influencia a escolha do vinho?

Um princípio a seguir, em casos extremos, é que vinhos tintos encorpados vão melhor com as refeições mais pesadas, enquanto os brancos combinam melhor com comidas mais leves.

Para tornar tudo mais claro, um cozido à portuguesa é uma comida pesada, quando comparada com  uma sopa vietnamita, que será considerada leve.

No entanto, ter em atenção que os especialistas lembram que as questões culturais podem  pôr em causa este princípio.

Lembra-se do tipo de refeição que combinou com o vinho que o impressionou da primeira vez que foi consumido? Esta poderá ser mais uma razão para não ter gostado tanto na segunda vez.

Conclusões

Como ficou claro, podem haver diferenças no consumo de um vinho que anteriormente experimentámos, caso não se consigam replicar as exactas condições do consumo anterior.

No entanto, na esmagadora maioria dos casos, um bom vinho será sempre um bom vinho, por muitos erros que se possam cometer na sua degustação.

Uma segunda conclusão, que podemos tirar, é a de que combinação certa de vinho e comida, especialmente para iniciados na matéria, é uma tarefa difícil, devido à enorme lista do que se pode e não se pode fazer, aliada ao facto de existir a ideia de que a transgressão de uma destas regras poder ser ridicularizada pelos entendidos, nomeadamente pelos especialistas existentes nos restaurantes para apoio aos clientes.

Mas, honestamente, combinar vinho com comida não é necessariamente um problema.
É tudo uma questão de preferência pessoal e esta é essencial.

Podem existir combinações famosas e outras mais populares, mas no fundo, quem está a comer é você e a combinação tem apenas que ser apelativa para o seu palato.

À sua saúde!

VL

Outubro | 2013

Monday, October 28, 2013

Vinho português em Angola - Prova de vinhos da Ervideira

Vinhos da Ervideira, a nossa agradável surpresa

Tarde de sábado, 21 de outubro, regresso a casa depois de uma brilhante prova dos vinhos do Morgadio da Calçada (referência que também aqui fizemos). Parámos no Bairro Morro Bento, na área de distribuição alimentar da Maxi.

A Maxi é uma rede de lojas de distribuição alimentar do Grupo Teixeira Duarte, fundada há 17 anos e hoje uma das mais importantes redes de comércio alimentar em Angola, com oito estabelecimentos em Luanda, um em Porto Amboim, um no Sumbe e um no Lobito.

Ao entrar, deparámo-nos com um acontecimento a que já nos habituámos: a degustação e promoção de vinhos Ervideira, do Alentejo.

A prova

Sob a orientação de Duarte Leal da Costa, diretor executivo da Ervideira e um dos seis filhos da Dona Maria Isabel, matriarca da família e responsável pela administração da Casa (as Herdades do Monte da Ribeira e da Herdadinha), 160 ha de excelentes vinhedos, sendo 110 na sub-região da Vidigueira e 50 na sub-região de Reguengos, aí estávamos nós perante mais uma montra de cinco bons vinhos. Chamou-nos a atenção, um vinho produzido exclusivamente para Angola - e Brasil -.

Começámos por provar um Terras D’Ervideira, produzido a partir das castas Aragonez, Trincadeira e Sirah, um tinto jovem que “apresenta uma cor granada intensa, com notas de ameixa, frutos silvestres e especiarias, no aroma”.

De seguida o Lusitano Cabernet Sauvignon. Disse-nos Duarte Leal, um vinho lançado
exclusivamente para responder às perspectivas e necessidades dos mercados angolano e brasileiro. “…Encorpado, de muito boa estrutura (um vinho que enche a boca), cor intensa, mas ao mesmo tempo muito macio. Para tal, a Ervideira deixa atingir um elevado grau de maturação nas uvas (Cabernet Sauvignon), casta bem conhecida por este público consumidor e apreciador, atingindo sempre mais de 14º, o que confere simultaneamente, intensidade, corpo e macieza.”

Um terceiro vinho, o Ervideira Colheita Seleccionada, das castas Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional. Com estágio em barricas de carvalho francês e americano, apresenta-se “de tons granada, com notas de ameixa, frutos silvestres e especiarias no aroma. Na boca é macio, com uma estrutura notória e elegante que persiste no final.”


Voltámos a outro Lusitano, o Reserva, de castas Aragonez, Tinta Caiada e Alicante Bouschet, um vinho medalhado com prata no China Wine Awards. “Apresenta uma cor granada e aromas de groselhas, ameixas vermelhas e algumas especiarias. É aveludado e com um conjunto equilibrado de acidez e suaves taninos.”

Por último, um Conde D’Ervideira Reserva 2010, das castas Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional. Como nota de prova “apresenta uma cor granada intensa e aromas de compotas de frutas vermelhas maduras, complexadas pela madeira. Aveludado, mostra uma estrutura interessante, uns taninos redondos e uma acidez correta.”

A distinção nos vinhos Ervideira

A Ervideira apresenta uma boa selecção de tintos, brancos, rosés e espumantes, com assinatura do Engº. Nelson Rolo, um jovem distinguido pela “Gala Online Prémios W 2011” com o prémio do “Melhor Jovem Enólogo” de Portugal. Gala apresentada pelo reconhecido crítico de vinhos, Aníbal Coutinho, onde são contemplados as melhores regiões, restaurantes, vinhos, produtores e enólogos.

Localizada muito próximo a Reguengos de Monsaraz, no Alentejo, a Ervideira é um nome reconhecido internacionalmente, com excelentes vinhos e muitas vezes premiada. O vinho branco Conde D’Ervideira, com origem na produção familiar  de gerações alentejanas, acaba de ganhar a Medalha de Ouro e o Prémio de Excelência, tendo sido considerado o melhor vinho branco alentejano, no concurso “Os Melhores Vinhos do Alentejo”, entre grandes ícones da região.

É uma marca que tem vindo a ser continuamente distinguida, pela imprensa, pela Confraria dos Enófilos do Alentejo, pela Revista dos Vinhos, para além de outras distinções em diversos concursos internacionais,
 
Vida longa, para boas provas de vinho…


Um grande sábado vinícola, duas provas num mesmo dia. Desta vez, o fígado foi um pouco castigado. Mas algo nos serenou um pouco esta convicção. Já um outro dia, num comentário a um artigo neste blog, com assinatura “VL”, “Bom vinho, em terra de boa água”, fiz uma referência a um texto retirado dum livro de Tony Buzan (2007), sobre os benefícios do vinho tinto, devidos a um componente designado “resveratrol”.

Ainda com referência ao mesmo livro, uma divagação sobre a esperança de vida.

Rezam as estatísticas que “na década de 1900, 99 em cada 100 pessoas morriam antes de terem atingido os 60 anos.” “Hoje (…) a maioria de nós pode esperar viver até aos 90 anos ou mais”: Cientistas a desenvolver “investigações extraordinárias na área do envelhecimento” “acreditam que, em breve, poderemos esperar viver muito para além dos 80 a 90 anos”, alguns deles pensam mesmo que “estamos perto de atingir o momento em que seremos capazes de aumentar consideravelmente a duração das nossas vidas até às centenas de anos.”

Na base destas investigações estão os sucessos da criação de órgãos “a partir de células do organismo dessas mesmas pessoas”, já feito com sucesso para a bexiga e agora a fazer-se para mais 23 outros orgãos principais, de entre o “fígado, o baço e o coração.” Acreditam eles que o sucesso da reprodução dos principais órgãos do corpo, pode-nos permitir “viver até para além dos 350 anos!” Dúvidas? Está na página 148.

Bom, com mais, pelo menos, um fígado novo, e mais os tais trezentos e tal anos, ainda há esperança para provarmos muitos bons vinhos. Eles que não faltem!

Um brinde ao Ervideira!

JB

Outubro | 2013

Wednesday, October 23, 2013

Sábado, com boas provas de vinhos em Angola

A Casa da Calçada

Sobre as encostas dos vales dos rios Douro e Pinhão, e cercada de socalcos plantados de vinha e oliveiras, na sub-região do Cima Corgo, zona por excelência da produção de vinhos do Porto, fica situada uma das cinco aldeias classificadas do vale do Douro, a pequena e histórica Provezende. Entre as 13 casas senhoriais da aldeia, com suas pedras de armas e cantarias em granito, “uma do século XVI e a maioria dos séculos XVII e XVIII”, encontramos um dos mais antigos solares da zona, a Casa da Calçada, construção do final do século XVII, da responsabilidade do desembargador Jerónimo da Cunha.

Um edifício histórico que caracteriza bem a imponência arquitetónica dos palacetes do Douro. Centenário, mas tremendamente moderno, “com grandes salões em “enfilade”, exemplo de uma tradição palaciana, mantendo os tetos e cores originais do seu interior e mobiliário de época, onde ainda se desfruta o ambiente das grandes casas vinhateiras da Região do Douro, nomeadamente na sala de jantar iluminada a velas.”

Os vinhos Morgadio da Calçada

Beneficiando de microclimas variados, pela acidentalidade do relevo, a região do Alto Douro, a terceira região demarcada e regulamentada do mundo (a seguir a Chianti na Itália e a Tokaji na Hungria), mas a mais exigente e a primeira a definir imposições similares às atuais, aquando da criação pelo Marquês de Pombal, da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 1756, e hoje reconhecida como património mundial pela UNESCO, produz vinhos de grande qualidade, “brancos, tintos e rosados, vinhos espumantes, licorosos e ainda aguardentes de vinho com especificidades próprias”, que utilizam a denominação de origem controlada "Douro" ou "Vinho do Douro".

Durante séculos, o Vale do Douro era apenas conhecido pelo vinho do Porto, um vinho com características muito particulares que o diferencia dos restantes: “uma enorme diversidade de tipos em que surpreende uma riqueza e intensidade de aromas incomparáveis e uma persistência muito elevada, quer de aromas, quer de sabor, para além de um teor alcoólico elevado (geralmente entre os 19 e os 22% vol.), numa vasta gama de "doçuras" e grande diversidade de cores”.

Hoje, apenas aproximadamente cerca de metade do vinho produzido na Região Demarcada do Douro é destinada à produção de "Vinho do Porto". Dirk Niepoort, cuja família está no negócio do vinho em Portugal há mais de um século, e sobre quem já tínhamos aqui, num dos artigos, feito uma referência como sendo  “uma das personalidades mais inovadoras e conhecedoras de vinho em todo o mundo”, foi, a par de outros enólogos de grande prestígio, como Fernando Nicolau de Almeida, um dos grandes impulsionadores do vinha de mesa, que viria a mudar o conceito do Douro para sempre.

Duma parceria entre a Casa da Calçada e a prestigiada companhia de vinhos Niepoort, após conversão de parte das vinhas entre 1980 e 90, surgem os vinhos Morgadio da Calçada, que aliam a tradição resultante do “terroir” e da zona de implantação da casa, à modernidade, resultante da singularidade da assinatura de Dirk van der Niepoort.

Mais uma prova de vinhos

Foi sobre os vinhos Morgadio da Calçada que, continuando o seu ciclo de provas de vinhos iniciado em setembro último, o Gourmet de Belas, fez mais duas provas de vinhos, nos dias 12 e 19 de outubro. No dia 12, os Morgadio da Calçada Brancos, Colheita 2010, um vinho com castas Côdega, Rabigato, Viosinho, Arinto e Malvasia Fina e o Reserva 2010 das castas Côdega, Rabigato, Viosinho, Arinto e outras.

O Porto Dry White, das castas Côdega, Rabigato, Viosinho, Arinto e Gouveio; o Porto Tawny Reserve e o Porto LBV 2007, ambos das castas Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Francisca, Tinta Amarela, Sousão e outras.

Excelentes vinhos!

No sábado 19, estiveram em prova mais cinco vinhos Morgadio da Calçada. O Colheita Tinto 2008, das castas Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional. Um vinho “fresco e elegante, muito equilibrado, marcado no aroma, por fruta vermelha e notas de especiarias intensas. Na boca é longo e fresco, com bom volume e uma estrutura de taninos suaves, mostrando-se amplo e complexo com um longo final, marcado pela frescura".

Este veio connosco e perdoem-me os catedráticos da matéria pela união, mas soube-nos muito bem, no dia seguinte, a acompanhar estes belos bichinhos da foto ao lado, acabados de sair do mar, e ao som dos 4 CDs da coletânea “O Melhor de Amália”. Ainda me lembro de “Estranha forma de vida”, “Povo que lavas no rio”, “Uma casa portuguesa”, “Ai mouraria”, “Vou dar de beber à dor”, e mais uma série deles.

Foi a nossa opção. Os americanos não acompanham o Vintage com charuto?!

Ainda o Reserva Tinto 2006, um vinho produzido com Touriga Franca e outras castas e o Reserva Tinto 2007 das castas Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional. Para terminar a prova, mais dois ícons do Douro. O Porto Ruby Reserve, um vinho das castas “Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Francisca, Tinta Amarela, Sousão e outras”, e o Porto Vintage 2007, um vinho das castas “Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinto Cão, Tinta Francisca, Tinta Amarela, Sousão e outras, incluindo a Touriga Nacional”.

A primeira prova do dia chegou ao fim. E digo a primeira porque, no regresso a casa, fomos “apanhados” por outro evento a meio do percurso. Fica para o próximo artigo.

Entretanto, despeço-me adaptando uma citação do The Times na contracapa do “Um Cérebro Sempre Jovem”: “Tony Buzan fará pelo cérebro o que Stephen Hawking fez pelo universo.” Eu acrescento: …e Fernando Nicolau de Almeida e Dirk Niepoort fizeram pelo vinho do Douro.”

À vossa saúde!

JB

Nota: Mais uma vez um reconhecido agradecimento ao Hildérico Coutinho pelas informações fornecidas.

Tuesday, October 15, 2013

Prova de vinhos do Douro, em Angola

O encontro

O que levará um grupo de pessoas, algumas desconhecidas entre si, a saírem de lugares perfeitamente distintos, percorrerem, individualmente, diversas artérias da cidade (alguns quilómetros, nalguns casos), no seu mais íntimo e privado pensamento e, sem nenhuma ligação aparente, a dirigirem-se todos para o mesmo local, há mesma hora e com o mesmo objetivo: uma prova de vinhos!


Sabemos que a prova dum vinho foi sempre algo de especial e cativante, não estando subjacente o definir se este é melhor ou pior que o outro, mas o que o rito nos desperta em termos de visão, olfato e gosto. Representa variados motivos de interesse: a garrafa, o tipo de copo, a temperatura, a comida com que melhor casa, para além da sua avaliação em termos de aspeto, cor, aroma, sabor, PAI (Persistência Aromática Intensa) - ou o comum “fim de boca”.

Um ritual que, para além dos aspetos intrínsecos que têm a ver com as características do próprio vinho, é tão antigo quanto o seu consumo. Abordar este ritual, é debruçar-nos sobre práticas vinícolas e usos e crenças, tão diferenciados, que vão desde cultos e venerações a proibições e punições, que têm desempenhado papéis tão díspares, nos mais variados contextos: político, económico e social, histórico e religioso, curativo e lúdico.

Nunca é demais relembrar que, segundo nos dizem, data de 7 a 4 mil anos a. C um dos primeiros registos do consumo do vinho, no Médio Oriente. Desde essa data, o místico e o divino estiveram sempre ligados ao vinho, de tal forma que, na Idade Média, a bebida era produzida pelos monges nas vinhas da própria igreja. Nada de estranho, se nos lembrarmos que, para os cristãos, o vinho é sagrado, simbolizando o sangue de Cristo, servido na última ceia.

Brancos, tintos e rosés “Hespanhol”


Desde os anos 80 que a família Hespanhol nos vem presenteando com vinhos de grande qualidade, dos solos xistosos da Região Demarcada do Douro. Manuel Pinto Hespanhol, faz parte duma geração pioneira de produtores que contribuíram para um ponto de viragem nos vinhos do Douro.

Vinhos Calços do Tanha, brancos refrescantes, rosés arrojados e tintos que espelham a essência das castas tradicionais do Douro. Os Zimbro, oriundos já do limite do Douro Superior, apresentam-se “robustos, ricos, intensos e complexos”, todos com marca dos enólogos Mário Teixeira e Francisco Montenegro. Este último, com a honra de um dos seus vinhos, o Grande Reserva 2005 da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, ter sido distinguido com “A Escolha da Imprensa – Grande Prémio tintos – Portugal, 2007”, com o “Best Douro Wine - Grand Jury Européen – Portugal, 2008”, entre as 21 marcas em apreciação e com o “Melhor Tinto do Velho Mundo – Top Ten – Expovinis – Brasil, 2008”. Uma experiência vínica a ter em conta.

A prova


Gourmet de Belas - Luanda - AngolaMais uma prova, mas sempre com algo de misterioso, curioso e místico. Cerca de 60 minutos reunidos ao redor de um balcão, religiosamente preparado para o ritual que se vai seguir. Uma fila de oito garrafas (a montra do que se vai apreciar, que embora incompleta consta da foto ao lado), colocadas pela ordem que, segundo alguns técnicos e embora discutível, a experimentação deve ser feita (o vinho branco antes do tinto, o jovem antes do velho, o seco antes do doce e o mais leve antes do encorpado). Os copos, neste caso cálices de vidro fino, de pé alto para permitir a pega e a feitura dos movimentos circulares que irão ser feitos na degustação. A côdea de pão, para limpar a boca durante a prova e um recipiente, também de vidro, para o resto de vinho daqueles que não bebem.

Na parte interior do balcão, Hildérico, o sommelier que, cumprimentados os comparsas, inicia a cerimónia. Tudo a rigor: os copos, a temperatura… Com toda a arte, vai pegando nas garrafas, preparadas já do dia anterior à temperatura considerada ideal. Uma a uma, o mesmo ritual, que não pode ser descuidado: verifica se existe depósito sólido no fundo, corta a cápsula abaixo da marisa, limpa bolores da parte superior da rolha e gargalo, extrai a rolha, cheira-a e vai servindo os copos, um a um, 50 a 60 ml.

O Gourmet de Belas, ofereceu-nos no passado sábado, 5 de Outubro, mais uma excelente prova de vinhos. Provaram-se oito vinhos, cinco de 2007. Bom ano para vinho, este 2007!

O Calços do Tanha Rosé Colheita 2011, uma mistura de castas tradicionais da região. Um vinho “de cor rosada, apresenta aroma fino e delicado a framboesas que se une a uma frescura citrina. Acidez pronunciada na boca, repleto de fruta e bons sabores.” Este levei comigo. E não é que acompanhou de forma exuberante um cabrito no forno! Quem diria!

O Calços do Tanha Colheita Tinto 2007 e o Calços do Tanha Reserva Tinto 2007 - este com medalha de bronze 2012 – Decanter -, ambos provenientes de mistura de castas autóctones da região. Por fim, o Touriga Franca 2007, da casta touriga franca, uma casta de eleição na região do Douro.

Os Zimbro, um Branco Colheita 2011, das castas Cerceal, Malvasia Fina e Gouveio e o Reserva Branco 2010, das castas Cerceal, Malvasia Fina, Gouveio, Rabigato e Códega de Larinho. Os tintos, um Colheita 2007, das castas Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Touriga Nacional. Este, medalhado com Prata – Decanter 2011 e com uma Menção Honrosa da Internacional Wine Challenge 2012.

Por último, o Tinto Grande Reserva 2007, proveniente da Região do Tua, das castas Touriga Franca, Tinta Roriz e Touriga Nacional, também com Medalha de Prata – Decanter 2011, Medalha de Prata – Berliner Wein Trophy 2011 e Medalha de Outro pelo Internacional Wine Challenge 2012. Este também veio. Excelente escolha!

O ritual chegou ao fim. A prova de vinhos acabou. Uma conversa amena entre os convivas, já com a mente mais liberta e cada um regressará ao ponto de partida. Até à próxima prova…

JB

Outubro | 2013

Sunday, October 13, 2013

Vinho da Madeira - Um néctar com mais de 500 anos

1. A história

Hoje vou falar sobre o Vinho da Madeira e, julgo, por boas razões, por:

  • ser um vinho português pouco conhecido;
  • ser um vinho de excelência;
  • ter uma história longa e digna de registo.

Vinho da Madeira - Um néctar com mais de 500 anosDe facto, trata-se de um vinho pouco divulgado e apenas consumido em círculos muito restritos e por conhecedores. Talvez pela reduzida procura apenas se encontra em boas garrafeiras.

A sua produção remonta a 1450 e terá sido promovida pelo Infante D. Henrique, sendo talvez o vinho português com mais antigas credenciais no mundo.

Referimos como mais emblemáticas as seguintes:

  • a independência dos Estados Unidos da América foi brindada com Vinho da Madeira;
  • é sabido que George Washington, Thomas Jefferson e  Winston Churchil consumiam regularmente de Vinho da Madeira;
  • Shakespeare fez referências ao Vinho da Madeira nalgumas das suas obras literárias;
  • atualmente continua a ser uma bebida de requinte nos Estados Unidos,  para consumo em momentos especiais.

2. As castas

As castas mais utilizadas na produção de vinho Madeira são Sercial, Verdelho, Boal, Malvasia e Tinta Negra.

Embora todas produzam vinhos licorosos, existem bastantes diferenças entre elas, passando do vinho mais doce (Malvasia) ao mais ácido (Sercial), situando-se as restantes castas a níveis intermédios de doçura/acidez.

Pessoalmente prefiro o Sercial, por não aderir a bebidas muito doces.

3. A minha experiência

Vinho da MadeiraDescobri o Vinho da Madeira há cerca de 6 anos quando fui convidado por um amigo a passar uma semana gastronómica e de golfe na sua casa em Porto Santo.

Esse amigo possuía uma excelente garrafeira de vinhos da Madeira, contemplando uma grande variedade de castas, de produtores e de idades. Que excelentes serões foram esses em Porto Santo …

Posteriormente vim a relacionar-me com outra família da Madeira que teve a gentiliza de me oferecer 4 garrafas (1 de cada casta – sercial, boal, verdelho e malvasia) mas todas com mais de 100 anos.

Escusado será dizer que abrir e beber essas garrafas foram experiências indescritíveis e quase místicas!

Desde aí passei a olhar religiosamente para o vinho da Madeira e vou procurá-lo em boas garrafeiras. Ao Vinho do Porto, juntei o Vinho da Madeira que passou a ser  meu aperitivo e digestivo e minha companhia nos momentos tristes e nos momentos alegres. 

Sugiro que experimentem e façam a vossa iniciação com um bom vinho. Escolham dentre os limites sercial ou malvasia, consoante o vosso gosto – mais ácido ou mais doce.

Sejam felizes.

MF

Outubro | 2013

Thursday, October 10, 2013

A vinha e o vinho em Portugal

O vinho e os Deuses, uma vez mais

Recentemente, deparei com um exemplar de um caderno editado e produzido pelo IVV – Instituto do Vinho e da Vinha, em 1999 e que me chamou a atenção pelo seguinte verso de Miguel Torga:

“Vinde à terra do vinho, deuses novos
Vinde, porque é de mosto
O sorriso dos deuses e dos povos
Quando a verdade lhes deslumbra o rosto”.

Bastaram dois ou três parágrafos para perceber que o tema central desse caderno não era a religiosidade e misticismo do vinho, como inicialmente pensei, mas uma pequena história da vinha e do vinho em Portugal.

O caderno, que pode ser lido na íntegra em "A vinha e o vinho em Portugal" tem interessantes passagens, que sumarizo neste post.

História da vinha e do vinho foi feita por vários povos

Verdadeiramente o caderno de apenas 19 páginas, escrito em português, inglês e francês, mais não é do que uma breve história da vinha e do vinho no território hoje designado Portugal, desde 2000 a.C., até aos nossos dias.

Os Tartessos, cerca de 2000 a.C., terão sido os primeiros a cultivar a vinha na Península ibérica e poderão ter usado o vinho como moeda de troca no comércio de metais, os Fenícios apoderaram-se do comércio dos Tartessos e podem ter trazido novas castas, os Gregos desenvolveram a viticultura, os Celtas trouxeram novas castas e provavelmente técnicas de tanoaria, os Romanos terão modernizado a cultura da vinha e massificado a sua exportação para Roma, mesmo os Árabes foram tolerantes para com o consumo e produção de vinho, pelos cristãos, sendo essa uma forma de os ver ligados à agricultura.

O caderno do IVV, mostra-nos, caso não soubéssemos já, que todos os povos que ao longo dos tempos foram passando por este território, acabaram por ter papel importante na história da vinha e do vinho, contribuindo, todos eles, directa ou indirectamente, para a sua expansão.

Com a Fundação de Portugal os vinhos passaram a ser mais conhecidos na Europa

Seguindo o caderno do IVV, após a Fundação de Portugal, manteve-se a importância do vinho, tendo sido arroteadas largas extensões de terreno para cultivo da vinha pelas Ordens religiosas, militares e monásticas, tendo sido nesta época que os vinhos de Portugal passaram a ser conhecidos por toda a Europa.

A reconquista cristã, a relativa paz que se seguiu e algum prestígio granjeado pelos portugueses, terá tornado mais fácil a circulação do vinho pela Europa, tendo-se aumentado o número de consumidores de vinho desta região.

Descobrimentos portugueses e o envelhecimento do vinho

Durante os descobrimentos, um dos produtos que as naus transportavam era o vinho, usado para consumo, troca e lastro, tendo este facto originado o vinho de “Roda” ou “Torna Viagem”, designações que hoje fariam sucesso em qualquer campanha de marketing de vinhos dos nossos produtores.

O caderno do IVV, refere que este vinho, que vinha substancialmente melhorado pelo envelhecimento suave provocado pela dupla passagem pelo Equador e pela permanência nas barricas, vendia-se a preços elevados e terá estado na origem do conhecimento empírico do envelhecimento.

Tratado entre Portugal e Inglaterra aumentou a exportação

Em 1703, Portugal e a Inglaterra assinaram o Tratado de Methwen, que regulamentou as trocas comerciais entre os dois países, facilitando a entrada em Inglaterra de vinhos portugueses, por troca de têxteis produzidos naquele país.

Independentemente das restantes consequências para Portugal, no que diz respeito ao vinho este tratado acabou por ser benéfico, contribuindo fortemente para o aumento da sua exportação.

Marquês de Pombal na origem da primeira região demarcada

Interessante também o papel do Marquês de Pombal na história da vinha e do vinho, tendo contribuído para mais um campo em que fomos pioneiros, apesar das razões porque o fez serem maioritariamente proteccionistas.

Em 1756 o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, demarcando aquela região, tendo sido esta a primeira região demarcada oficialmente no mundo vitivinícola.

Escolho "vinhos portugueses"

A riqueza e diversidade de vinhos produzidos em Portugal, a sua superior qualidade e competitividade, faz com que hoje em dia seja fácil encontrá-los em qualquer país do mundo, o que me enche de orgulho.

Assim, a minha escolha neste post não aponta para nenhum vinho em particular, como tem sido a prática, mas, em homenagem à sua história, para os vinhos de uma região: Portugal.

Proponho pois um brinde aos vinhos portugueses e a todos aqueles que ao longo dos tempos contribuíram para que o vinho desta região tenha sido sempre considerados um dos mais prestigiados do mundo.

À vossa saúde!

VL


Outubro | 2013

Friday, October 4, 2013

Vinho tinto da região vinícola Ribera del Duero

Prova de vinhos, em Belas, Luanda

Aqui, Belas, é um município da província de Luanda onde, há pouco mais de sete anos, nasceu Luanda Sul - Talatona. Uma área hoje já bastante desenvolvida, que se destaca pela existência de vários condomínios residenciais, destinados ao segmento alto e médio/alto, por um comércio em ascensão e pelo surgimento de empresas do setor de comunicações e novas tecnologias, para além de uma forte sociedade financeira em instalação. Belas tem boas residências, bons hotéis (o Hotel de Convenções de Talatona é um dos três de cinco estrelas da cidade de Luanda), infraestruturas adequadas, boa qualidade de vida.

Aí nasceu, em 2007, o primeiro espaço de grande dimensão em Angola: o Belas Shopping. Uma área com cerca de 19.500 m2 que conta com 100 lojas (incluindo uma boa área de restauração) e com oito salas de cinema. Como não podia deixar de ser, uma dessas lojas é de vinho: o Gourmet de Belas. À boa maneira europeia, tem tudo o que uma boa casa de vinhos deve ter: uma enorme variedade de vinhos, com excelente qualidade.

Em setembro, o Gourmet de Belas iniciou um ciclo regular de provas de vinhos, No passado sábado, dia 28, teve lugar mais uma, esta sob o lema “Vinhos do Telmo Rodriguez”.

Quem é Telmo Rodriguez?

“Telmo Rodriguez é um nome grande na enologia espanhola onde é considerado um enfant terrible por defender posições diferentes das dominantes e por desenvolver novas abordagens ao modo de fazer vinho.” O produtor Dirk Niepoort, por alguns considerado “uma das personalidades mais inovadoras e conhecedoras de vinho em todo o mundo”, disse a certa altura “… Não tenho dúvidas que sem o Telmo, os vinhos Niepoort não seriam o que hoje são. Com o Telmo aprendemos, o Luís (o Seabra e enólogo da casa à época) e eu, a procura da pureza. Aprendemos, ou finalmente percebemos, que como quase tudo na vida; menos é mais…”.

Enólogo cursado em Bordéus, estagia com a família Prats (do famosíssimo Cos d’Estournel) e depois na região de Vale do Ródano, onde trabalhou com Chave e com Trévallon, experiências que o terão levado a “procurar os chamados «vinhos com alma», vinhos com carácter próprio que expressem o mais fielmente possível o terroir e as castas de que são feitos. Numa altura em que ainda muita gente andava a fazer vinhos brutais, já este enólogo procurava fazer vinhos o mais elegante possível.”

Em 1994, com o intuito de fazer os “seus vinhos” funda, com Pablo Eguzkiza, seu colega de curso a Compañía de Vinos de La Granja, atual Compañía de Vinos Telmo Rodriguez, e desde o início com o objetivo de trabalhar com castas locais, independentemente da região onde fazem os vinhos. “Recuperar velhas vinhas de regiões que estão há muito fora de moda acaba por ser uma consequência natural. É exemplo disto, o moscatel doce Molino Real de Málaga ou o Pégaso (…) de Cebreros.”

As regiões vinícolas

Estiveram em prova vinhos das regiões de Castilla Y León, Rioja e Ribera del Duero. Numa zona de inúmeros rios, Castilla Y León, onde a casta Tempranilo (também conhecida por Tinta del Pais, Tinto de Toro, Tinto Fino, Aragonês, Tinta Roriz, etc.) está na base de quase todos os grandes vinhos, tem no vale do famoso Duero (o nosso Douro), as melhores áreas de vinha da região e produz alguns dos vinhos mais respeitados de Espanha, principalmente os da Ribera del Duero, Toro, Rueda e áreas de Bierzo, estas já mais no extremo noroeste da região.

Ribera del Duero é uma importante área produtora de vinho na região, com muita reputação internacional graças à alta qualidade dos seus vinhos tintos.

Rioja (nome derivado do “rio Ojas”, um pequeno afluente do rio Ebro) é considerada a principal região vinícola de Espanha, ao norte do país, com predominância dos vinhos tintos. A maior parte da região vinícola situa-se na província de La Rioja, com pequenas partes estendendo-se para o país Basco a noroeste e para Navarra a nordeste.

Os vinhos em prova

Cerca de 15 provadores e amantes da cultura e arte do vinho, tiveram a oportunidade de experimentar sete grandes vinhos tintos, da Compañia de Vinos Telmo Rodriguez. O Gazur 2010, o M2 de Matallana 2008 e o Matallana de 2006, todos da Ribera Del Duero e da casta Temprannilo; o Pago La Jara 2008, de Toro, das castas Tinta de Toro e Albillo. Da região de Castilla Y León, o Pegaso Granito 2008, da casta Garnacha. Da região de Rioja, o Lanzaga 2008 e o Altos Lanzaga 2007, ambos das castas Tempranillo, Graciano and Garnacha.

A minha escolha

Com a especial ajuda do nosso anfitrião, o escanção/sommelier Hildérico Coutinho, um português nascido em Moimenta da Beira e crescido no Porto no mundo dos vinhos, a minha escolha recaiu no M2 de Matallana 2008. 

Para acompanhar uma caldeirada de cabrito e, como entrada, um chouriço de porco preto do Alentejo (também do Gourmet), levei este vinho da Ribera del Duero e da casta Tempranillo. Diz no contra-rótulo: “Este vinho tenta mostrar um lado mais suave e abordável do estilo de vinho desta parte do vale do Douro, onde a variedade Tinto Fino tem sido plantada ao longo de séculos. 

Desde 1994 que Telmo Rodriguez e Pablo Eguzkiza têm trabalhado em alguns dos mais excitantes locais de Espanha. O seu trabalho centra-se na descoberta de vinhas com microclimas particulares e em colaboração com produtores locais de uva obter vinhos que possam ajudar essas regiões a sobreviver."

Provem e depois falamos… Por mim, estou pronto para partir até ao Vale del Duero.

JB

Outubro | 2013

Nota: Um especial agradecimento ao Hildérico Coutinho, pelas informações gentilmente cedidas sobre o enólogo e as regiões vinícolas.

Wednesday, October 2, 2013

Vinho verde, um velho amigo dos meus amigos

Primeiro encontro com o vinho verde

Na verdade, o meu encontro com o vinho verde vem da sempre agradável visita à casa de amigos, na zona de Viana do Castelo, que começou muito tempo atrás.

Naquela altura ainda se fazia vinho em casa, só das uvas do quintal, pelo que a qualidade deixava algo a desejar, muito diferente da realidade que hoje conhecemos, mas o que importava era o convívio, a boa comida e os passeios na sempre surpreendente região minhota.

Mesmo quando a escolha passava pelos vinhos das adegas, ainda recordo daquele vinho branco, com acidez q.b., que ficava muito tempo na boca e acompanhava aqueles pratos muito minhotos, para não falar daqueles tintos, que se bebia por malga, com sarro que manchava tudo, mas ideal para um fabuloso arroz de sarrabulho, feito pelas mães desses amigos. Inesquecível!

Vinho Alvarinho era um bem raro e caro

Vinho da casta Alvarinho era um bem raro e caro, concentrado em algumas quintas bem conhecidas. Passado alguns anos e noutra visita, agora à Galiza, surpresa das surpresas, Alvarinho (Albarino) era em cada esquina, para todas as bolsas, com muitas marcas, que motivou muitas visitas, provas e pratadas de bom marisco. Passeio complicado com tanta motivação!

Atualmente a realidade do vinho verde é bem diferente, com forte aposta da marca, dentro e fora do País, na qualidade do produto, com muitas opções de castas e respetivos preços e numa região bem mais alargada do que sabíamos na altura, pois  encontramos vinho verde entre Monção e Baião.

No vinho branco as castas mais conhecidas são Alvarinho, Loureiro, Arinto, Trajadura e no vinho tinto são Amaral, Borraçal, Espadeiro, Vinhão, nomes bem diferentes dos de outras regiões.

Uma escolha, entre muitas opções

Para destacar um vinho, a minha aposta vai para um Loureiro (com alguma Trajadura), que foi recente companhia num almoço de apoio a um bom amigo, a acompanhar um especial arroz de peixe (muito, muito fresco), novamente lá para os lados de Viana do Castelo. Que grande parceria!

Queria pois destacar o vinho branco da Quinta da Casa da Mata, de Arcos de Valdevez, segundo dizem, tratado com processos ancestrais e naturais. Tem a habitual cor citrina, com o aroma intenso e frutado da casta, mas com uma acidez bem agradável pelo seu equilíbrio.

Apenas uma das muitas opções que são hoje escolhas seguras para bons momentos, com bons amigos.

RM

Outubro | 2013