Wednesday, October 23, 2013

Sábado, com boas provas de vinhos em Angola

A Casa da Calçada

Sobre as encostas dos vales dos rios Douro e Pinhão, e cercada de socalcos plantados de vinha e oliveiras, na sub-região do Cima Corgo, zona por excelência da produção de vinhos do Porto, fica situada uma das cinco aldeias classificadas do vale do Douro, a pequena e histórica Provezende. Entre as 13 casas senhoriais da aldeia, com suas pedras de armas e cantarias em granito, “uma do século XVI e a maioria dos séculos XVII e XVIII”, encontramos um dos mais antigos solares da zona, a Casa da Calçada, construção do final do século XVII, da responsabilidade do desembargador Jerónimo da Cunha.

Um edifício histórico que caracteriza bem a imponência arquitetónica dos palacetes do Douro. Centenário, mas tremendamente moderno, “com grandes salões em “enfilade”, exemplo de uma tradição palaciana, mantendo os tetos e cores originais do seu interior e mobiliário de época, onde ainda se desfruta o ambiente das grandes casas vinhateiras da Região do Douro, nomeadamente na sala de jantar iluminada a velas.”

Os vinhos Morgadio da Calçada

Beneficiando de microclimas variados, pela acidentalidade do relevo, a região do Alto Douro, a terceira região demarcada e regulamentada do mundo (a seguir a Chianti na Itália e a Tokaji na Hungria), mas a mais exigente e a primeira a definir imposições similares às atuais, aquando da criação pelo Marquês de Pombal, da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em 1756, e hoje reconhecida como património mundial pela UNESCO, produz vinhos de grande qualidade, “brancos, tintos e rosados, vinhos espumantes, licorosos e ainda aguardentes de vinho com especificidades próprias”, que utilizam a denominação de origem controlada "Douro" ou "Vinho do Douro".

Durante séculos, o Vale do Douro era apenas conhecido pelo vinho do Porto, um vinho com características muito particulares que o diferencia dos restantes: “uma enorme diversidade de tipos em que surpreende uma riqueza e intensidade de aromas incomparáveis e uma persistência muito elevada, quer de aromas, quer de sabor, para além de um teor alcoólico elevado (geralmente entre os 19 e os 22% vol.), numa vasta gama de "doçuras" e grande diversidade de cores”.

Hoje, apenas aproximadamente cerca de metade do vinho produzido na Região Demarcada do Douro é destinada à produção de "Vinho do Porto". Dirk Niepoort, cuja família está no negócio do vinho em Portugal há mais de um século, e sobre quem já tínhamos aqui, num dos artigos, feito uma referência como sendo  “uma das personalidades mais inovadoras e conhecedoras de vinho em todo o mundo”, foi, a par de outros enólogos de grande prestígio, como Fernando Nicolau de Almeida, um dos grandes impulsionadores do vinha de mesa, que viria a mudar o conceito do Douro para sempre.

Duma parceria entre a Casa da Calçada e a prestigiada companhia de vinhos Niepoort, após conversão de parte das vinhas entre 1980 e 90, surgem os vinhos Morgadio da Calçada, que aliam a tradição resultante do “terroir” e da zona de implantação da casa, à modernidade, resultante da singularidade da assinatura de Dirk van der Niepoort.

Mais uma prova de vinhos

Foi sobre os vinhos Morgadio da Calçada que, continuando o seu ciclo de provas de vinhos iniciado em setembro último, o Gourmet de Belas, fez mais duas provas de vinhos, nos dias 12 e 19 de outubro. No dia 12, os Morgadio da Calçada Brancos, Colheita 2010, um vinho com castas Côdega, Rabigato, Viosinho, Arinto e Malvasia Fina e o Reserva 2010 das castas Côdega, Rabigato, Viosinho, Arinto e outras.

O Porto Dry White, das castas Côdega, Rabigato, Viosinho, Arinto e Gouveio; o Porto Tawny Reserve e o Porto LBV 2007, ambos das castas Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Francisca, Tinta Amarela, Sousão e outras.

Excelentes vinhos!

No sábado 19, estiveram em prova mais cinco vinhos Morgadio da Calçada. O Colheita Tinto 2008, das castas Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional. Um vinho “fresco e elegante, muito equilibrado, marcado no aroma, por fruta vermelha e notas de especiarias intensas. Na boca é longo e fresco, com bom volume e uma estrutura de taninos suaves, mostrando-se amplo e complexo com um longo final, marcado pela frescura".

Este veio connosco e perdoem-me os catedráticos da matéria pela união, mas soube-nos muito bem, no dia seguinte, a acompanhar estes belos bichinhos da foto ao lado, acabados de sair do mar, e ao som dos 4 CDs da coletânea “O Melhor de Amália”. Ainda me lembro de “Estranha forma de vida”, “Povo que lavas no rio”, “Uma casa portuguesa”, “Ai mouraria”, “Vou dar de beber à dor”, e mais uma série deles.

Foi a nossa opção. Os americanos não acompanham o Vintage com charuto?!

Ainda o Reserva Tinto 2006, um vinho produzido com Touriga Franca e outras castas e o Reserva Tinto 2007 das castas Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional. Para terminar a prova, mais dois ícons do Douro. O Porto Ruby Reserve, um vinho das castas “Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Francisca, Tinta Amarela, Sousão e outras”, e o Porto Vintage 2007, um vinho das castas “Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinto Cão, Tinta Francisca, Tinta Amarela, Sousão e outras, incluindo a Touriga Nacional”.

A primeira prova do dia chegou ao fim. E digo a primeira porque, no regresso a casa, fomos “apanhados” por outro evento a meio do percurso. Fica para o próximo artigo.

Entretanto, despeço-me adaptando uma citação do The Times na contracapa do “Um Cérebro Sempre Jovem”: “Tony Buzan fará pelo cérebro o que Stephen Hawking fez pelo universo.” Eu acrescento: …e Fernando Nicolau de Almeida e Dirk Niepoort fizeram pelo vinho do Douro.”

À vossa saúde!

JB

Nota: Mais uma vez um reconhecido agradecimento ao Hildérico Coutinho pelas informações fornecidas.

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