Tuesday, October 15, 2013

Prova de vinhos do Douro, em Angola

O encontro

O que levará um grupo de pessoas, algumas desconhecidas entre si, a saírem de lugares perfeitamente distintos, percorrerem, individualmente, diversas artérias da cidade (alguns quilómetros, nalguns casos), no seu mais íntimo e privado pensamento e, sem nenhuma ligação aparente, a dirigirem-se todos para o mesmo local, há mesma hora e com o mesmo objetivo: uma prova de vinhos!


Sabemos que a prova dum vinho foi sempre algo de especial e cativante, não estando subjacente o definir se este é melhor ou pior que o outro, mas o que o rito nos desperta em termos de visão, olfato e gosto. Representa variados motivos de interesse: a garrafa, o tipo de copo, a temperatura, a comida com que melhor casa, para além da sua avaliação em termos de aspeto, cor, aroma, sabor, PAI (Persistência Aromática Intensa) - ou o comum “fim de boca”.

Um ritual que, para além dos aspetos intrínsecos que têm a ver com as características do próprio vinho, é tão antigo quanto o seu consumo. Abordar este ritual, é debruçar-nos sobre práticas vinícolas e usos e crenças, tão diferenciados, que vão desde cultos e venerações a proibições e punições, que têm desempenhado papéis tão díspares, nos mais variados contextos: político, económico e social, histórico e religioso, curativo e lúdico.

Nunca é demais relembrar que, segundo nos dizem, data de 7 a 4 mil anos a. C um dos primeiros registos do consumo do vinho, no Médio Oriente. Desde essa data, o místico e o divino estiveram sempre ligados ao vinho, de tal forma que, na Idade Média, a bebida era produzida pelos monges nas vinhas da própria igreja. Nada de estranho, se nos lembrarmos que, para os cristãos, o vinho é sagrado, simbolizando o sangue de Cristo, servido na última ceia.

Brancos, tintos e rosés “Hespanhol”


Desde os anos 80 que a família Hespanhol nos vem presenteando com vinhos de grande qualidade, dos solos xistosos da Região Demarcada do Douro. Manuel Pinto Hespanhol, faz parte duma geração pioneira de produtores que contribuíram para um ponto de viragem nos vinhos do Douro.

Vinhos Calços do Tanha, brancos refrescantes, rosés arrojados e tintos que espelham a essência das castas tradicionais do Douro. Os Zimbro, oriundos já do limite do Douro Superior, apresentam-se “robustos, ricos, intensos e complexos”, todos com marca dos enólogos Mário Teixeira e Francisco Montenegro. Este último, com a honra de um dos seus vinhos, o Grande Reserva 2005 da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, ter sido distinguido com “A Escolha da Imprensa – Grande Prémio tintos – Portugal, 2007”, com o “Best Douro Wine - Grand Jury Européen – Portugal, 2008”, entre as 21 marcas em apreciação e com o “Melhor Tinto do Velho Mundo – Top Ten – Expovinis – Brasil, 2008”. Uma experiência vínica a ter em conta.

A prova


Gourmet de Belas - Luanda - AngolaMais uma prova, mas sempre com algo de misterioso, curioso e místico. Cerca de 60 minutos reunidos ao redor de um balcão, religiosamente preparado para o ritual que se vai seguir. Uma fila de oito garrafas (a montra do que se vai apreciar, que embora incompleta consta da foto ao lado), colocadas pela ordem que, segundo alguns técnicos e embora discutível, a experimentação deve ser feita (o vinho branco antes do tinto, o jovem antes do velho, o seco antes do doce e o mais leve antes do encorpado). Os copos, neste caso cálices de vidro fino, de pé alto para permitir a pega e a feitura dos movimentos circulares que irão ser feitos na degustação. A côdea de pão, para limpar a boca durante a prova e um recipiente, também de vidro, para o resto de vinho daqueles que não bebem.

Na parte interior do balcão, Hildérico, o sommelier que, cumprimentados os comparsas, inicia a cerimónia. Tudo a rigor: os copos, a temperatura… Com toda a arte, vai pegando nas garrafas, preparadas já do dia anterior à temperatura considerada ideal. Uma a uma, o mesmo ritual, que não pode ser descuidado: verifica se existe depósito sólido no fundo, corta a cápsula abaixo da marisa, limpa bolores da parte superior da rolha e gargalo, extrai a rolha, cheira-a e vai servindo os copos, um a um, 50 a 60 ml.

O Gourmet de Belas, ofereceu-nos no passado sábado, 5 de Outubro, mais uma excelente prova de vinhos. Provaram-se oito vinhos, cinco de 2007. Bom ano para vinho, este 2007!

O Calços do Tanha Rosé Colheita 2011, uma mistura de castas tradicionais da região. Um vinho “de cor rosada, apresenta aroma fino e delicado a framboesas que se une a uma frescura citrina. Acidez pronunciada na boca, repleto de fruta e bons sabores.” Este levei comigo. E não é que acompanhou de forma exuberante um cabrito no forno! Quem diria!

O Calços do Tanha Colheita Tinto 2007 e o Calços do Tanha Reserva Tinto 2007 - este com medalha de bronze 2012 – Decanter -, ambos provenientes de mistura de castas autóctones da região. Por fim, o Touriga Franca 2007, da casta touriga franca, uma casta de eleição na região do Douro.

Os Zimbro, um Branco Colheita 2011, das castas Cerceal, Malvasia Fina e Gouveio e o Reserva Branco 2010, das castas Cerceal, Malvasia Fina, Gouveio, Rabigato e Códega de Larinho. Os tintos, um Colheita 2007, das castas Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Touriga Nacional. Este, medalhado com Prata – Decanter 2011 e com uma Menção Honrosa da Internacional Wine Challenge 2012.

Por último, o Tinto Grande Reserva 2007, proveniente da Região do Tua, das castas Touriga Franca, Tinta Roriz e Touriga Nacional, também com Medalha de Prata – Decanter 2011, Medalha de Prata – Berliner Wein Trophy 2011 e Medalha de Outro pelo Internacional Wine Challenge 2012. Este também veio. Excelente escolha!

O ritual chegou ao fim. A prova de vinhos acabou. Uma conversa amena entre os convivas, já com a mente mais liberta e cada um regressará ao ponto de partida. Até à próxima prova…

JB

Outubro | 2013

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